O ESTADO DE S.PAULO - 24/06
Há uma característica peculiar no DNA do PT que tem dificultado a articulação de alianças em torno da candidatura de Dilma Rousseff à reeleição: a soberba. A arrogância do comando lulopetista, que posa de monopolista da virtude e despreza os aliados porque age por puro fisiologismo, tem sido responsável por importantes reveses nesta pré-campanha eleitoral. O mais recente é a decisão do PMDB fluminense de apoiar a candidatura de Aécio Neves à Presidência em dobradinha com a do governador Luis Fernando Pezão à reeleição.
A dissidência do PMDB fluminense não se enquadra exatamente na galeria dos episódios louváveis que honram a política brasileira. É pura e simplesmente o desdobramento do toma lá dá cá que o PT não inventou, mas empenhou-se diligentemente em aperfeiçoar ao longo de quase 12 anos no poder. Desde a eleição ao governo estadual do peemedebista Sérgio Cabral em 2006, coerente com a orientação da direção nacional do partido, o PMDB fluminense e o governador em particular posicionaram-se com armas e bagagens no séquito de Luiz Inácio Lula da Silva. A ligação entre Lula e Cabral parecia tão sólida que este chegou a sonhar, em 2010, em ser o vice de Dilma Rousseff. Teve de se contentar com a candidatura à reeleição.
Mas a decepção definitiva de Cabral veio quando, em vez de honrar a aliança apoiando o candidato dele à própria sucessão, o PT optou por aceitar o fato consumado da candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do Estado, até porque a popularidade de Cabral caíra vertiginosamente, contaminando a de Pezão. Agora, Cabral e o PMDB fluminense dão o troco. Oficialmente, Pezão e Cabral continuarão apoiando Dilma. Mas a poderosa máquina política do PMDB fluminense vai trabalhar por Aécio Neves.
Às más notícias no plano das alianças eleitorais a soberba lulopetista parece disposta a responder com mais do mesmo, a julgar por tudo que foi proclamado na convenção nacional que confirmou a candidatura de Dilma à reeleição. A começar pelo fato de que a presidente está agora oficialmente enquadrada, pela proverbial imodéstia de Lula, na condição subalterna de "criatura" do Grande Chefe.
A insatisfação generalizada dos brasileiros com a qualidade dos serviços públicos se manifesta vigorosamente nas ruas. Mas Lula, Dilma e o PT se gabam de terem inventado um novo país, criando uma nova realidade nacional de desenvolvimento econômico e conquistas sociais. Estariam plenamente credenciados, portanto, a se lançarem à campanha eleitoral com o apelo à continuidade das fantásticas realizações com que mudaram para melhor a face do País. Mas como não podem ignorar que os brasileiros não estão lá muito satisfeitos com o que veem e, principalmente, sentem, é melhor ir de "mudança". Aliás, "mais mudança", porque, afinal, o estoque de promessas não cumpridas está longe de se esgotar.
O pior é que as principais novidades das "mudanças" apontam na direção do retrocesso. Apesar de terem repudiado o "ódio" revelado pela "elite branca" contra Dilma no lamentável episódio da abertura da Copa do Mundo, o discurso petista continuará focado no estímulo à cizânia nacional, à divisão dos brasileiros entre "nós" e "eles", agora com uma pegada mais "esquerdista" que procurará dar destaque à necessidade do "controle social da mídia" e de uma reforma política destinada não a aperfeiçoar o sistema democrático a serviço de uma sociedade pluralista, mas a consolidar a hegemonia da nomenklatura petista. Não é outro o objetivo do decreto que, a pretexto de "regulamentar o texto constitucional", pretende aparelhar a estrutura do Poder Central com "conselhos populares" manipulados pelo Planalto.
E todo esse conteúdo "popular" se derramará na campanha petista, embalado pela demagogia dos chavões populistas que durante a convenção de sábado Dilma leu no teleponto: "Recolhamos as pedras que atiram contra nós e vamos transformá-las em tijolos para fazer mais casas do Minha Casa, Minha Vida. Vamos recolher os xingamentos, os impropérios e as grosserias e transformá-los em versos de canções de esperança no futuro do Brasil".
A soberba afasta aliados. A demagogia populista nem sempre atrai eleitores.
Há uma característica peculiar no DNA do PT que tem dificultado a articulação de alianças em torno da candidatura de Dilma Rousseff à reeleição: a soberba. A arrogância do comando lulopetista, que posa de monopolista da virtude e despreza os aliados porque age por puro fisiologismo, tem sido responsável por importantes reveses nesta pré-campanha eleitoral. O mais recente é a decisão do PMDB fluminense de apoiar a candidatura de Aécio Neves à Presidência em dobradinha com a do governador Luis Fernando Pezão à reeleição.
A dissidência do PMDB fluminense não se enquadra exatamente na galeria dos episódios louváveis que honram a política brasileira. É pura e simplesmente o desdobramento do toma lá dá cá que o PT não inventou, mas empenhou-se diligentemente em aperfeiçoar ao longo de quase 12 anos no poder. Desde a eleição ao governo estadual do peemedebista Sérgio Cabral em 2006, coerente com a orientação da direção nacional do partido, o PMDB fluminense e o governador em particular posicionaram-se com armas e bagagens no séquito de Luiz Inácio Lula da Silva. A ligação entre Lula e Cabral parecia tão sólida que este chegou a sonhar, em 2010, em ser o vice de Dilma Rousseff. Teve de se contentar com a candidatura à reeleição.
Mas a decepção definitiva de Cabral veio quando, em vez de honrar a aliança apoiando o candidato dele à própria sucessão, o PT optou por aceitar o fato consumado da candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do Estado, até porque a popularidade de Cabral caíra vertiginosamente, contaminando a de Pezão. Agora, Cabral e o PMDB fluminense dão o troco. Oficialmente, Pezão e Cabral continuarão apoiando Dilma. Mas a poderosa máquina política do PMDB fluminense vai trabalhar por Aécio Neves.
Às más notícias no plano das alianças eleitorais a soberba lulopetista parece disposta a responder com mais do mesmo, a julgar por tudo que foi proclamado na convenção nacional que confirmou a candidatura de Dilma à reeleição. A começar pelo fato de que a presidente está agora oficialmente enquadrada, pela proverbial imodéstia de Lula, na condição subalterna de "criatura" do Grande Chefe.
A insatisfação generalizada dos brasileiros com a qualidade dos serviços públicos se manifesta vigorosamente nas ruas. Mas Lula, Dilma e o PT se gabam de terem inventado um novo país, criando uma nova realidade nacional de desenvolvimento econômico e conquistas sociais. Estariam plenamente credenciados, portanto, a se lançarem à campanha eleitoral com o apelo à continuidade das fantásticas realizações com que mudaram para melhor a face do País. Mas como não podem ignorar que os brasileiros não estão lá muito satisfeitos com o que veem e, principalmente, sentem, é melhor ir de "mudança". Aliás, "mais mudança", porque, afinal, o estoque de promessas não cumpridas está longe de se esgotar.
O pior é que as principais novidades das "mudanças" apontam na direção do retrocesso. Apesar de terem repudiado o "ódio" revelado pela "elite branca" contra Dilma no lamentável episódio da abertura da Copa do Mundo, o discurso petista continuará focado no estímulo à cizânia nacional, à divisão dos brasileiros entre "nós" e "eles", agora com uma pegada mais "esquerdista" que procurará dar destaque à necessidade do "controle social da mídia" e de uma reforma política destinada não a aperfeiçoar o sistema democrático a serviço de uma sociedade pluralista, mas a consolidar a hegemonia da nomenklatura petista. Não é outro o objetivo do decreto que, a pretexto de "regulamentar o texto constitucional", pretende aparelhar a estrutura do Poder Central com "conselhos populares" manipulados pelo Planalto.
E todo esse conteúdo "popular" se derramará na campanha petista, embalado pela demagogia dos chavões populistas que durante a convenção de sábado Dilma leu no teleponto: "Recolhamos as pedras que atiram contra nós e vamos transformá-las em tijolos para fazer mais casas do Minha Casa, Minha Vida. Vamos recolher os xingamentos, os impropérios e as grosserias e transformá-los em versos de canções de esperança no futuro do Brasil".
A soberba afasta aliados. A demagogia populista nem sempre atrai eleitores.
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