Artigo
no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por
Adriano Benayon
Ao
nos ocuparmos das questões nacionais, não devemos nos precipitar, pois há
pressa, e não se deve desperdiçar tempo em assuntos e discussões de importância
secundária. A situação é grave demais para que se tire o foco do que
interessa.
Um
tema que não deveria merecer muito gasto de nossa energia são as eleições
presidenciais. Em artigo recente, “Eleições e Modelo Dependente”,
escrevi:
“O real sistema de poder manobra sempre para que todos os candidatos
com chance de chegar ao 2º turno estejam comprometidos com a realização destes
objetivos: ampliar e aprofundar a desnacionalização da economia,
desindustrializá-la, servir a dívida - inflada pela composição de juros
absurdos – e propiciar ganhos desmedidos às grandes empresas
transnacionais.”
Portanto,
com qualquer “eleito”, a vitória será do sistema imperial e de
saqueio, comandado pela oligarquia financeira angloamericana, através de
carteis transnacionais e coadjuvada por concentradores locais.
Sessenta
anos de atraso tecnológico aumentando e crescente perda de autodeterminação
política e econômica geraram condições deterioradas de vida no País.
Essa
deterioração tem sido acompanhada por doses maciças de desinformação, sendo a
natural revolta popular manipulada por opositores diretamente vinculados àquela
oligarquia financeira e principalmente por entidades controladas por esta, que
agem para desestabilizar a presente gerência petista.
Esta,
na verdade, atende ao sistema de poder da oligarquia, contra o qual a revolta
deveria se dirigir. É como culpar só o gerente do restaurante que manda
servir alimentos estragados e que, se não o fizer, será sumariamente
demitido.
De
qualquer forma, não é tolerável a lesividade das políticas do atual
governo, como: 1) os leilões do petróleo; 2) o agravamento da situação do setor
de energia elétrica no quadro de um sistema predador, que se diz “de mercado”;
3) as parcerias público-privadas; 4) novas elevações das absurdas taxas
de juros dos títulos públicos, que sangram o Tesouro, em favor dos
concentradores financeiros.
Há
que denunciar também a continuidade:
1)
das alienações de terras usadas predatoriamente, em grandes plantations,
para exportação; 2) da extrema desnacionalização da economia; 3) do
favorecimento aos carteis transnacionais, praticantes de preços extorsivos e de
transferência; 4) da liberdade de exportação, com baixa ou nula tributação, de
inestimáveis recursos minerais, preciosos e estratégicos, inclusive o
nióbio, em que o pouco caso com os interesses nacionais recebe o aval da
CODEMIG, estadual de Minas Gerais.
Entre
os crimes mais graves das gerências petistas estão como os decretos e medidas
para liberar as sementes transgênicas e os agrotóxicos a elas
associados. A urgente proibição dessas sementes tem de ser exigida nas
mobilizações populares sem as quais o processo de desintegração do País não
terá solução de continuidade.
Mais
de 800 cientistas de 82 países assinaram carta aberta, na qual pedem a
suspensão imediata das licenças ambientais para cultivos transgênicos e
produtos derivados, tanto comercialmente como em testes em campo aberto,
durante ao menos cinco anos.
Eles
proclamam: “as patentes dos organismos vivos, dos processos, das sementes, das
linhas de células e genes devem ser revogadas e proibidas.”
Apontam
agrônomos e biólogos: "Se as abelhas desaparecerem da face
da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas
não há polinização, nem reprodução da flora; sem flora não há animais, sem
animais, não haverá raça humana."
Isso
não é pouco, e há mais que isso. Os cientistas confirmam que os cultivos
transgênicos prejudicam os agricultores, inclusive por envolver o aumento
do uso de herbicidas e o empobrecimento do solo. Ademais,
intensificam o monopólio das grandes empresas sobre os alimentos, o que está
levando os agricultores familiares à miséria e impedindo a segurança
alimentar e a saúde no mundo.
Até
mesmo nos EUA e no Reino Unido, fontes do próprio Estado reconhecem o
perigo dos transgênicos para a biodiversidade e a saúde humana e animal. A
transferência horizontal de genes acarreta a difusão de genes que tornam
incuráveis as doenças infecciosas e criam vírus e bactérias causadores de doenças
e mutações capazes de provocar o câncer.
Liberalismo
ou imperialismo?
A
oligarquia financeira mundial tem investido no Brasil – durante mais de um
século, de forma crescente - na (de)formação de opiniões e na
deseducação, gerando confusão mental e animosidade entre grupos sociais e
indivíduos, associadas a doutrinas e ideologias.
Os
saqueadores e seus adeptos - remunerados ou não - encobrem a
verdadeira natureza das políticas que realizam o saqueio imperial,
fazendo que até mesmo os críticos delas as qualifiquem de liberais e neoliberais.
Esses
nomes não costumam causar repulsa geral e até exercem atração sobre as
pessoas que os associam a termos da mesma raiz, como “livre”, libertário”,
“liberdade”. Palavras bonitas e antigos ideários das revoluções
francesa e norte-americana, que passaram a ser evocados por mentores das
políticas de escravização através da economia.
Do
mesmo modo que as oligarquias nos países centrais, os defensores, no
Brasil, dos privilégios aos carteis transnacionais e de seus contatos
coloniais ou semicoloniais também se dizem e são chamados de
(neo)liberais.
Então,
o que, na realidade, não passa de mera apropriação dos recursos naturais e dos
frutos do trabalho de um país, fica sendo discutido como se fosse questão
doutrinária.
O
engodo é ainda maior, porque se atribui aos liberais ser contrários à
intervenção do Estado, e porque a grande maioria das pessoas ignora que
atualmente, na maioria dos países, o Estado é controlado pela oligarquia e que
ele intervém, em favor desta, nas finanças e na economia.
Por
causa disso - mas sem que o público perceba que é por isso - o
Estado comporta-se como insaciável coletor de impostos e taxas, sem prestar
serviços, nem investir bem, nem assegurar direitos sociais básicos.
A
própria incompetência adrede instalada no Estado, serviu para fazer aumentar
ainda mais a concentração predadora, através das privatizações.
Essas
estão sendo desfeitas em alguns países como Rússia e França, enquanto no
Brasil o Estado só aumenta de tamanho como repassador de recursos a
concentradores estrangeiros e locais.
Antes,
tivemos excelentes avanços tecnológicos em estatais, mas elas foram sendo
minadas para “justificar” as privatizações. Tudo em nome da “livre” iniciativa,
na qual carteis e monopólios sufocam a iniciativa, impedem a concorrência
e apropriam-se das poucas tecnologias não impedidas de surgir.
Entretanto,
nenhum país se desenvolveu sem a liderança do Estado, o único instrumento de a
sociedade organizar-se para evoluir e defender-se, papel que ainda desempenha
em alguns países, ainda que nem sempre a contento geral.
Sem
o Estado a seu serviço, a sociedade transforma-se em massa amorfa,
composta por indivíduos sem personalidade e sem liberdade alguma, como ocorre
no grande número de países dominados pela oligarquia financeira mundial,
inclusive em suas sedes - EUA, Reino Unido.
Assim,
as instituições formalmente democráticas, mesmo quando não violadas por
desestabilizações e golpes de Estado, ficam sob controle daquela oligarquia. Os
“governantes” são prepostos ou acuados.
De
fato, não existe democracia sob regimes que não estabelecem limite à
concentração econômico-financeira. A falsa que temos aqui leva à
convulsão, com chance de o que vier depois, levar à guerra civil, à
desintegração e a ainda maior submissão ao império mundial.
Portanto,
nossa sobrevivência depende de os brasileiros não mais se deixarem pautar
pela agenda e pelos conceitos do império. Só começará a ser viabilizada,
quando a consciência dos fatos deixar de ser obscurecida por ideologias,
e quando os brasileiros deixarem de repelir-se entre si por divergências de
opinião, inclusive esquerda ou direita.
Adriano
Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus
Desenvolvimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário