Atualizado em 23 de junho, 2014
Pressionado pela opinião
pública, um vereador japonês fez um pedido formal de desculpas a uma
colega por tê-la mandado "se casar logo".
Suzuki, que pertence ao partido governista PLD, inicialmente negou qualquer envolvimento e condenou o assédio. Mas a pressão foi tão grande que ele foi obrigado a pedir desculpas publicamente.
O vereador admitiu então que foi o autor do primeiro comentário, em que sugere à colega para se casar logo.
Ao estilo japonês, Suzuki se curvou diante da deputada e, em linguagem formal, pediu desculpas. Ao final da curta conversa, em frente à imprensa, ele se curvou novamente e disse mais uma vez que estava arrependido dos comentários.
Ayaka, que pertence a um pequeno partido político, aceitou o pedido de desculpas e disse que espera que outros envolvidos também tenham coragem de assumir o erro. "Tenho certeza de que havia outras pessoas que fizeram comentários", disse ela à imprensa japonesa.
Suzuki chegou a ser questionado se renunciaria ao cargo. Mas ele negou qualquer movimento neste sentido. "Vou continuar enquanto estiver autorizado para isso", respondeu ele.
Discurso
Ayaka, uma parlamentar até então não muito conhecida da população, foi à Assembleia na quarta-feira da passada disposta a pressionar o governo de Tóquio a aumentar os esforços de apoio às mulheres.Ela chegou a citar leis recentes que exigem, por exemplo, que as mães dobrem os carrinhos de bebê quando embarcam no trem. A vereadora falou também das dificuldades que as grávidas enfrentam e criticou a falta de uma política pública mais forte voltada à criação de filhos.
No meio do discurso, ela foi interrompida por colegas, que a insultaram e questionaram a capacidade dela de gerar um filho. Ayaka soltou um riso de desprezo e tentou continuar em meio a risadas.
Visivelmente abalada, os olhos se encheram de lágrimas e sua voz ficou embargada. Quando se sentou, ela foi vista enxugando os olhos com um lenço. Todas essas imagens foram amplamente divulgadas pelas emissoras de TV japonesas.
Mais tarde, Ayaka publicou em sua conta no Facebook que as reações machistas foram como "um soco no estômago" e desafiou quem a insultou a encará-la de frente.
Debate nacional
O incidente tomou conta das ruas e das mídias japonesas. Na TV, diversos programas abordaram o tema das diferenças de tratamento de acordo com o gênero.A ala parlamentar feminina se uniu e exigiu os nomes dos responsáveis pelo ataque.
"Esses comentários ofensivos dos membros do sexo masculino indicam que eles acham que as mulheres que não são casadas, ou que não têm um filho, não valem a pena serem ouvidas", desabafou Ayaka em entrevistas à imprensa local.
No Japão, ainda hoje, mulheres recebem salários, em média, 30% menores do que seus colegas do sexo masculino, mesmo que exerçam a mesma posição em uma empresa.
Além disto, apenas 3% dos cargos de chefia no governo são exercidos por mulheres. O primeiro-ministro Shinzo Abe, que defende o projeto de apoio às mulheres, quer aumentar esse número para cerca de 30% até os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.
Os opositores se dizem preocupados, no entanto, com a baixa taxa de natalidade no Japão. O país possui um dos menores índices mundiais de nascimentos e o argumento da oposição é de que ele continuará caindo à medida que as mulheres deem preferência à carreira em vez do casamento e da geração de filhos.
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