Michel Temer pode perder o posto de vice.
Interessados em implodir a estratégica união do PMDB com
Dilma Rousseff, os presidenciáveis oposicionistas Eduardo Campos (PSB) e Aécio
Neves (PSDB) iniciaram nas últimas semanas uma silenciosa ofensiva para levar o
partido a derrotar a aliança com a presidente da República. Em 10 de junho, a maior legenda da coalizão governista vai
decidir se aprova a permanência na chapa pela reeleição da petista e a
continuidade de Michel Temer na vice.
Nos bastidores, adversários de Dilma passaram a estimular
traições e aprofundar dissidências no território peemedebista. Mais do que
conquistar aprovação às suas próprias candidaturas, Campos e Aécio querem minar
um casamento político, vital à hegemonia de Dilma no tempo de TV da propaganda
eleitoral.
Segundo a Folha apurou, Aécio atacou dois dos três Estados
com maior peso na convenção, Rio e Minas, obtendo promessa de levar a maioria
dos votos contra a aliança com Dilma no dia 10. Campos investiu sobre o Ceará e buscou alimentar rachas em
redutos onde a convivência entre PT e PMDB já é problemática, aproveitando-se
dessa fragilidade.
Em boa parte das apostas sobre o resultado da votação, Dilma
é apontada como vitoriosa, apesar dos altos riscos de traição --o voto é
secreto e o PMDB é conhecido por seu alto grau de infidelidade. Mesmo com a insatisfação geral no PMDB em relação ao
tratamento dado pela presidente da República nos últimos anos, Michel Temer
ainda é tratado como garantia de manutenção da aliança.
Presidente da sigla por muitos anos, sua influência caiu
desde que assumiu a cadeira de vice no Planalto, mas não a ponto de uma derrota
ser dada como certa. Por outro lado, ninguém é capaz de descartar com absoluta
certeza a hipótese de um revés, nem mesmo no governo.
REVÉS
Eduardo Campos conversou longamente com o senador Eunício
Oliveira (PMDB-CE), pré-candidato ao goverdo Ceará e incomodado com a falta de
apoio de Dilma Rousseff à sua campanha. No Estado, a presidente está com os
irmãos Gomes, Cid e Ciro, ambos oponentes de Eunício.
No diálogo, o presidenciável fez uma análise pessimista
sobre a situação da economia e se declarou convicto de que irá para um eventual
segundo turno. Para contar com os votos dos rebeldes cearenses no encontro do PMDB,
pediu apenas o chamado "palanque aberto". Ou seja: Eunício poderia receber para eventos eleitorais
tanto Aécio quanto Campos. O movimento, porém, não foi combinado entre os dois
oposicionistas, embora a operação para atrair dissidentes sirva a ambos.
'VELHA POLÍTICA'
Em suas falas públicas, Campos tem se apresentado como um
crítico da "velha política", citando nominalmente caciques do PMDB
como expoentes do fisiologismo. Ele chegou a prometer mandar o senador José Sarney (PMDB-AP)
"para casa". Não há relatos de que Campos tenha procurado nenhum
daqueles que tem criticado.
Nesta quarta (4), em Porto Alegre (RS), onde apoiará o
peemedebista José Ivo Sartori na disputa para o governo, Campos elogiou o
passado do PMDB ao justificar o acordo com o partido em palanques regionais.
Disse que o apoio ao PSB de figuras como Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon
(RS) estimula os peemedebistas a "reencontrarem" a sua linha
histórica.
"A unidade do PMDB daqui está animando o PMDB autêntico
do Brasil afora. O PMDB do Rio Grande do Sul e o de Pernambuco sempre foram
referência", disse. Ele citou ainda Mato Grosso do Sul, onde vai se aliar ao
peemedebista Nelson Trad.
Já Aécio Neves está se movimentando no Estado com maior
números de votos da convenção, o Rio de Janeiro. A operação surtiu efeito.
Nesta quinta-feira (5), o PMDB realiza encontro para defender a chapa
"Aezão", uma combinação do nome do tucano com o do governador Luiz
Fernando Pezão (PMDB). Apesar de declararem apoio a Dilma, Pezão e o ex-governador
Sérgio Cabral (PMDB) não tentaram evitar o encontro. A rebelião começou após o
PT decidir lançar a candidatura do senador do partido Lindbergh Farias. (Folha de São Paulo)
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