Mídia Sem Máscara
| 01 Junho 2014
Artigos - Governo do PT
A
principal característica de um governo esquerdista é que ele jamais se
contenta em governar de acordo com a ordem legal, instituída. Ele sempre
acredita que detém a chave, a poção, a receita miraculosa para
transformar o país no que, ele imagina, será o melhor dos mundos. O
problema é que o melhor dos mundos, quando se trata da esquerda, está
sempre próximo do que imaginamos ser o Inferno, quando não é o próprio
Inferno.
A
prova do que afirmo encontra-se não apenas na história das revoluções —
vejam o Purgatório congelado no tempo em que Cuba se transformou,
sobrevivendo graças à submissão de um povo sem esperança e sem armas e à
propaganda esquerdista mundial, ou os milhões de crimes perpetrados
pelo comunismo soviético —, mas também no presente, no cotidiano da
sociedade brasileira, sequestrada, em grande parte, pelo pior tipo de
populismo que já conhecemos, superior, em método e recursos, aos
refinamentos do getulismo.
Esta semana, mais uma vez, o governo ensaiou uma tentativa de golpe. O alarme foi dado pelo editorial do Estadão, “Mudança de regime por decreto”, e rapidamente se espalhou pelas redes sociais e blogs, transformando-se em um fenômeno viral.
De
fato, enquanto os políticos de oposição dormem, refestelados em seus
altos salários e mordomias, parcela da sociedade vigia, atenta, os
ensaios para se criar uma ditadura. As reações foram múltiplas: Reinaldo
Azevedo pontificou: “A ‘democracia direta’ de Dilma é ditadura indireta do PT”.
Alexandre Borges deu uma breve mas incisiva aula de história em “Todo poder aos sovietes petistas”.
Felipe Moura Brasil denunciou a lentidão dos tucanos, sempre
envergonhados ou sempre pactuando silenciosamente com o governo, no post
“Ronaldo Caiado sai na frente de Aécio: ‘É golpe do PT!’”. No artigo “Um tumor inserido por decreto”, Fábio Blanco sangrou ainda mais a manobra traiçoeira. E Milton Simon Pires não deixou por menos: mostrou, em “Brasil 8243”, como o PT pretende destruir as instituições do país.
O mais didático e irônico, contudo, foi Erick Vizolli, no sempre ótimo Liberzone. No artigo “Afinal, o que é esse tal Decreto 8.243?”,
Vizolli mostra que o sistema representativo, apesar de todos os seus
defeitos, ainda é a única forma de nos protegermos de um Estado
controlado por grupos que não têm compromisso com a democracia ou a
liberdade, mas apenas com suas próprias ideologias.
Todos esses articulistas me recordaram as reflexões de Roger Scruton em The Uses of Pessimism and the Danger of False Hope (As vantagens do pessimismo,
Editora Quetzal, Lisboa). No Capítulo 6, “A Falácia do Planeamento”,
Scruton faz uma brilhante analogia entre a estrutura da União Europeia e
a forma como Lenin aboliu, na Revolução Russa, “todas as instituições
através das quais o partido e seus membros pudessem ser
responsabilizados pelo que fizeram”, permitindo que um erro se sucedesse
a outro, sempre maior, sempre mais criminoso.
Scruton reflete como se tivesse acabado de ler o decreto de Dilma Roussef: “Quando
os poderes de Governo estiverem adequadamente repartidos e quando os
que detêm a soberania puderem ser expulsos por uma votação, os erros
podem encontrar o seu remédio. Porém suponhamos que as instituições de
Governo estão montadas de tal maneira que toda a concentração de poder é
irreversível, de modo que os poderes adquiridos pelo centro nunca podem
ser recuperados. E suponhamos que aqueles que mandam no centro são
nomeados, não podem ser afastados a pedido do povo, encontram-se em
segredo e guardam poucas ou nenhumas atas das suas decisões. Acha que,
nessas circunstâncias, existem condições em que possam ser retificados
erros ou mesmo convincentemente confessados?”.
Todos
os infinitos casos de corrupção; todas as manifestações de ódio
coletivo que têm tomado as ruas; o longo e incansável trabalho de
controle ideológico feito pelo Ministério da Educação, censurando, de
forma velada, o conteúdo de milhões de livros didáticos distribuídos
país afora; todas as tentativas de manter sob vigilância a mídia e a
Internet; o evidente controle do Executivo sobre parcela do Congresso e
do Supremo Tribunal Federal — tudo contribui para transformar o Decreto
8.243 na cereja do bolo.
Se
ainda podemos ter alguma esperança, ela reside no fato de que eles
sempre acabam destruindo uns aos outros. “Doze vozes gritavam cheias de
ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que
sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um
porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um
homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem,
quem era porco” — conta George Orwell no final de A Revolução dos Bichos.
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