quinta-feira, 5 de junho de 2014

Alunos defendem legitimidade de evento na UFF de Rio das Ostras, RJ


04/06/2014 20h06 - Atualizado em 04/06/2014 20h14


Em reunião na tarde desta quarta-feira, estudantes criticaram a mídia.


Performace artística durante festa criou polêmica nas redes sociais.



Do G1 Região dos Lagos


Festa na UFF de Rio das Ostras (Foto: Divulgação) 
A festa  realizada durante o seminário na UFF de Rio das Ostras .

 Alunos da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Rio das Ostras, Região dos Lagos do Rio, que participaram do seminário "Corpo e Resistência" e da festa "Xereca Satânik", realizados na última quarta-feira (28), participaram de uma reunião na tarde desta quarta-feira (4). 

Durante o encontro, os estudantes defenderam junto à reitoria da universidade a legitimidade do seminário e de qualquer objeto de pesquisa dentro da UFF. "Não estamos aqui discutindo o que é ou não arte, mas defendemos a legitimidade do seminário e da pesquisa realizada", comentou um dos alunos do curso de produção cultural com a equipe de reportagem do G1, solicitando não ser identificado na matéria.


A posição do aluno foi a mesma de muitos universitários procurados pela reportagem. 

"Não estamos autorizados a falar sobre o que foi discutido hoje e sobre o evento da semana passada, mas acho que essa polêmica toda foi criada pela imprensa, que não se interessou em saber o que realmente estava acontecendo e se deixou levar por postagens de gente retrógrada e mal informada nas redes sociais", comentou outra estudante.


O reitor da UFF, Roberto Salles, declarou durante a tarde que é preciso investigar o que aconteceu, apurar responsabilidades, mas também comentou que a população deve ser esclarecida sobre o que aconteceu no campus de Rio das Ostras. Disse ainda que o momento é de acabar com polêmicas e tentar enteder qual o objetivo da apresentação.

"O que tem que ser feito nesse momento é não criar mais polêmicas. É esclarecer a população sobre a apresentação, o objetivo dela e qual intuito do trabalho. Se o objetivo foi criar uma discussão e chocar a população, isso foi conquistado. Porém, precisamos investigar todos os pontos e como isso aconteceu", pontuou. 



Comunicado (Foto: Reprodução / Facebook) 
Moção de Apoio do colegiado  do curso de Produção
Cultural da UFF 


Professores divulgam Moção de Apoio Também na tarde desta quarta-feira, o responsável pelo Departamento de Artes e Estudos Culturais, professor Daniel Caetano, divulgou em sua página na rede social a "Moção de Apoio", divulgada pelo colegiado do curso de graduação em produção cultural da universidade. Abaixo, a íntegra do texto:


"O colegiado do Curso de Graduação em Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense, sediada em Niterói, tal como deliberado em sua última reunião, vem aqui manifestar seu apoio aos docentes, discentes e técnicos administrativos do Curso de Graduação em Produção Cultural do Pólo Universitário de Rio das Ostras, em razão dos desdobramentos acerca da confraternização intitulada 'Xereca Satânica', realizada no campus de Rio das Ostras da Universidade Federal Fluminense. 


Causa-nos espanto o grau de estranheza e criminalização com a qual tanto a perfomance da artista Larissa Vitral, quanto a própria universidade foram tratadas nos últimos dias. Por se tratar de um espaço de experimentação de linguagens e reflexão - com seus evidentes riscos de choque à moral e ao senso comum -, é justamente na universidade onde devem ser expostos os descontentamentos, estimulados os debates, e negados quaisquer vícios de censura.


Essencial ressaltar como a insegurança na cidade de Rio das Ostras vem afetando diferentemente homens e mulheres. O alto índice de estupros registrados no município evidencia a necessidade de medidas urgentes para a proteção do corpo feminino. Por óbvio, a performance denuncia a incapacidade de nossa sociedade em proporcionar um espaço de convivência igualitária às nossas diversidades de gênero. 


Em função disso, parece-nos mais prudente que, de imediato, fossem tomadas providências que garantissem patamares mais adequados à plena socialidade citadina às mulheres que ora residem ou visitam a cidade. Como tal, queremos aqui repudiar a forma como alunos e professores do Pólo Universitário de Rio das Ostras vêm sendo tratados nestes dias.


Por óbvio, é obrigação da administração da universidade pública, bem como de seus docentes e discentes, avaliar e prestar contas à sociedade brasileira sobre suas ações no âmbito do ensino, pesquisa e extensão. 


No entanto, é inadmissível qualquer tratamento que coloque em suspenso a liberdade de expressão, de pensamento, de manifestação artístico-cultural, dentre outros direitos fundamentais garantidos pela Constituição, de nossos alunos, professores e demais funcionários", diz a moção.

 
Universidade divulga comunicado
Na manhã desta quarta-feira, a UFF se pronunciou sobre a festa polêmica, que fez parte do seminário realizado pelos alunos do Departamento de Artes e Estudos Culturais. O evento intitulado "Xereca Satânik" gerou muita polêmica porque o convite na internet falava da realização de “orgia, drogas e ritual satânico”. 



Durante a festa, a genitália de uma mulher teria sido costurada. Um crânio humano também foi usado. No comunicado, a direção da universidade afirma que "não compactua com qualquer tipo atividade que, desvirtuando de sua essência institucional, extrapole os limites do razoável"



Festa na UFF de Rio das Ostras (Foto: Reprodução/Rede social) 
Foto mostra mulher tendo a genitália costurada


O comunicado assinado pelo vice-reitor Sidney Luis de Matos Mello pede, ainda, que testemunhas se apresentem para esclarecer o que realmente houve no local. Veja na íntegra:


"Conforme amplamente divulgado pela mídia impressa e televisiva, no dia 28 de maio de 2014, quarta-feira, ocorreu um evento no Polo Universitário de Rio das Ostras (Puro) da UFF, que gerou um grande número de críticas e denúncias de ilegalidades.
A Universidade Federal Fluminense (UFF), por meio de sua Direção Central, não compactua com qualquer tipo atividade que, desvirtuando de sua essência institucional, extrapole os limites do razoável, atentando aos valores da liberdade e igualdade, ou ofendendo a dignidade da pessoa humana.


Desta forma, visando a contribuir com as investigações em curso, sem prejuízo de outras medidas administrativas ou judiciais a serem adotadas, solicita-se àqueles que, de alguma forma, tenham presenciado possíveis ilegalidades cometidas junto ao espaço público da universidade, que entrem em contato com a Ouvidoria da UFF através do e-mail <ouvidoria@uff.br>, pelo telefone (21) 2629-5225, ou no endereço Rua Miguel de Frias, 9, 3º andar, Icaraí, Niterói, de segunda-feira a sexta-feira, das 9h às 17h, e forneçam informações que possam contribuir para a apuração precisa dos fatos", diz o texto publicado no site da instituição.




Na segunda-feira (2) a Polícia Federal fez uma diligência no campus. 


Segundo o delegado Júlio César Ribeiro, os peritos constataram que o local onde houve a festa havia sido lavado e nenhuma prova foi colhida. 


Mesmo assim, testemunhas e funcionários da universidade foram intimados a depor, na próxima quinta-feira (5) pela manhã. O objetivo, segundo o delegado, é saber se alguma verba pública foi utilizada na realização das atividades ou se algum crime foi cometido. O inquérito deve ser concluído em um prazo de 30 dias.

O professor Daniel Caetano defende que nenhuma irregularidade foi cometida no evento. “ (...) Embora não tenham sido feitos "rituais satânicos" e o título do evento fosse essencialmente provocativo (ao contrário do que o jornalismo marrom afirmou), precisamos dizer que não haverá de nossa parte qualquer censura a atos do gênero. 

A universidade pública é LAICA, como todo o estado brasileiro. Todos os representantes públicos devem defender o laicismo - caso contrário, cometem o crime de prevaricação. 

A laicidade assegura a qualquer manifestação religiosa o mesmo grau de respeitabilidade: sejam missas católicas, evangélicas, judaicas, budistas ou satânicas”, disse o professor Daniel Caetano, em sua página na rede social.

A aluna do curso de Enfermagem, Alana Vilela , discorda do professor e contou que se sentiu ofendida pela performance. "É uma afronta total. Moro no dormitório do campus e me senti constrangida e coagida", comentou a aluna.

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