Lula emudeceu. Evita falar sobre os prejuízos e o tráfico de
influência em alguns dos maiores negócios realizados pela Petrobras durante o
seu governo.
Há inquéritos, prisões e debates no Congresso, mas o
ex-presidente da República se mantém calado para o público sobre os bilionários
“malfeitos” na sua administração.
Estranhável, porque se trata de um político habituado a sair
da cama no meio da madrugada, andar até a cozinha e abrir a geladeira apenas
para ter o prazer de fazer um breve e secreto “comício” — cena que ele mesmo já
descreveu inúmeras vezes em praças públicas.
Esse silêncio, certamente, não é por recomendação médica: na
sexta-feira Lula conversou por quase três horas com a presidente Dilma
Rousseff, a sós, num hotel paulistano.
Ex-ministra de Minas e Energia, ex-chefe da Casa Civil e
ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras, sob Lula, ela fez
questão de escrever e divulgar no Palácio do Planalto seu testemunho sobre um
dos negócios suspeitos da estatal — a aquisição de uma refinaria ferro-velho em
Pasadena (Texas) ao custo de mais de US$ 1 bilhão, com base em documentos
“técnica e juridicamente falhos”.
“Tiro no pé” foi o comentário mais frequente sobre o gesto
de Dilma no plantel de porta-vozes de Lula. A nota foi interpretada como
confirmação do “malfeito”. No Congresso houve quem fizesse leitura diferente:
Dilma se preocupou em registrar publicamente os limites da sua atuação,
estabelecidos nas ordens que possuía como ministra e representante de Lula no
conselho da Petrobras.
A fronteira do seu poder estava bem delimitada. No
Ministério de Minas e Energia, por exemplo, esboçou uma reforma na diretoria da
Petrobras, com alavancagem de Maria das Graças Foster, a quem chama de
“Graciosa”. Surpreendeu-se com a reação de José Dirceu, chefe da Casa Civil.
Precisou esperar seis anos para conseguir nomeá-la comandante da empresa.
Lula foi o dono do tempo e da agenda de negócios da
companhia, em transações com políticos aliados, em linha direta com José Sérgio
Gabrielli, que fazia questão de exibir a estrela-símbolo do PT na lapela do
paletó.
São do período Lula-Gabrielli iniciativas como a bilionária
conta da compra e projetos de reforma da refinaria no Texas, a construção da
refinaria em Pernambuco a custo dez vezes acima do orçamento inicial, e, ainda,
a porteira aberta em áreas-chave às traficâncias dos associados na “maior base
aliada do Ocidente”, conforme a modesta definição de Dirceu.
Foi nessa etapa que a Petrobras desidratou a auditoria
interna e repassou mais de 75% do serviço de fiscalização dos seus contratos às
próprias empresas contratadas, como registrou o Tribunal de Contas da União.
Recebiam de um lado do balcão. E, do outro, forneciam até “as secretárias do
gerente e do fiscal” — constatou o TCU em documento apresentado na Comissão
Parlamentar de Inquérito que desvendou o mensalão.
O relatório final dessa CPI é instrutivo e está na rede do
Senado, com seus três volumes e 1.800 páginas. A capa destaca um versículo
bíblico (Mateus, 10:26): “Não tenhais medo dos homens, pois nada há de
encoberto que não venha a ser revelado, e nada há de escondido que não venha a
ser conhecido.”
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