Existe
um Brasil ainda bárbaro, violento, alheio à Justiça e ao estado de
direito. Esse país faz, a cada ano, mais de 50 mil mortos. A esmagadora
maioria desses casos fica sem solução; não chega aos autores.
É claro
que o motivo deste texto é o linchamento da dona de casa Fabiane Maria
de Jesus, espancada até a morte no bairro de Morrinhos, no Guarujá. Por
quê? Ora, havia um boato sobre uma suposta sequestradora de crianças que
estaria atuando na região. Uma página no Facebook teria divulgado um
retrato falado. Alguém achou que ela se parecia com Fabiane, e a
tragédia se deu.
O mais
impressionante: não havia nem mesmo casos de sequestro. Tudo não passava
de um boato, de um diz-que-diz-que. Atenção! Ainda que Fabiane fosse
uma criminosa, o linchamento seria inaceitável. Inventamos instituições
justamente para evitar a guerra de todos contra todos.
As redes
sociais são um instrumento fantástico da democracia. Mas é preciso ter
responsabilidade. A polícia tem de investigar com toda a severidade se
houve, ainda que indiretamente, um incitamento a comportamentos
criminosos.
Da mesma
forma, é preciso chegar aos responsáveis pelo linchamento e puni-los com
todo o rigor da lei. Não há nada que justifique toda aquela
brutalidade. Não me venham falar que são pessoas humildes, de baixa
escolaridade, que vivem em situação difícil. Não me venham falar dos
deserdados do Estado, da sorte, do destino.
Tudo isso
pode ser verdade. Ocorre que são muitos milhões os pobres no Brasil. Se
pobreza fosse sinônimo de propensão ao crime, não conseguiríamos pôr o
nariz fora da porta. É preciso deixar claro que os pobres também têm
senso de moralidade, de justiça, de decência.
Não é a
condição social que faz o caráter. Partir dessa premissa corresponde a
exercitar o mais odioso preconceito. Os assassinos de Fabiane Maria de
Jesus têm de arcar com as consequências de seu ato criminoso. Para que
isso não volte mais a acontecer.
Quanto aos
linchadores que hoje pululam nas redes sociais, dizer o quê? Eles
existem, de vários gêneros, de várias formas. Há desde os
livres-espancadores, que são sórdidos por uma inclinação do espírito,
àqueles que são pagos por estatais e por páginas do governo federal para
atacar a honra daqueles que têm a pretensão de ter como adversários.
Há, em suma, os linchadores por conta própria e os linchadores a soldo. São todos bandidos.
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