terça-feira, 6 de maio de 2014

Janio de Freitas Outro campo de corrupção FOLHA de SÃO PAULO



A sociedade não quer que se criem mais oportunidades de bandalheiras, ainda mais no futebol

Sejam quais forem os seus propósitos, o projeto de liberação de apostas no futebol pela internet, noticiado por Sérgio Rangel na Folha, é no mínimo um despropósito. Começa por conflitar com a Constituição, que proíbe o chamado jogo de azar (de azar para o apostador, que a banca do jogo, seja entidade ou pessoa, como provam a Caixa, os jóqueis clubes e os bicheiros, fica com a sorte). O que se segue à impropriedade constitucional do projeto é talvez, consideradas as circunstâncias, ainda pior. 

A bandalheira no futebol brasileiro é um tabu. Entre os próximos do futebol, é vulgar o conhecimento de dirigentes de clubes, diretores de departamento de futebol, técnicos e dirigentes de entidades que fazem enriquecimentos pessoais em velocidade e montantes só comparáveis aos de quem penetra no círculo manipulador das especulações de bolsa de valores. 

O exemplo tentador dessa bandalheira já a propagou para outros esportes. Nesse sentido, há pouco um trabalho magnífico e valente do jornalista Lúcio de Castro fez, pela ESPN, revelações estarrecedoras. Com o interesse da publicidade pelo esporte e pelos atletas como "outdoors" ambulantes, foi aberta mais uma via para escoamento da bandalheira, em que importâncias altíssimas se partilham para fins que o anunciante nem imagina. As comissões e extorsões nas compras de jogadores, na venda de direitos de transmissão, e em outros negócios, deixaram de ser reserva natural do futebol. 

O projeto do deputado Otávio Leite, do PSDB-RJ, naturalmente destina uns caramingoles do montante de apostas para a "iniciação escolar de atletas". É o chamariz da moda no Brasil: "apoios" à educação, ao esporte e à saúde são a chave atual para todos os cofres por aqui. Mas o que neles entra nunca é o que saiu a eles endereçado. O Ministério do Esporte e o Flamengo de hoje juntam-se em uma demonstração perfeita do que é o verdadeiro interesse pela "formação de atletas". 

A quase nova diretoria do clube foi eleita com o compromisso de contratar cinco grandes jogadores para o futebol e renovar as glórias atléticas da história do clube. Entre seus primeiros atos, dispensou o multicampeão César Cielo (com patrocinador próprio) e acabou com a natação; fechou a ginástica olímpica, em que o Flamengo era referência internacional de formação e de títulos nacionais e mundiais; quebrou o timaço de basquete e, em resumo, acabou com outros esportes olímpicos e suas escolinhas. Só foi impedido de acabar com o campeoníssimo remo porque o nome do inigualável é Clube de Regatas do Flamengo. 

Toda essa devastação de esportes olímpicos deu-se a três anos da Olimpíada. E com amparo na omissão absoluta do Ministério dos Esportes e do seu ministro nominal, Aldo Rebelo. Ah, sim, houve contratações no futebol: muitas, só de jogadores que estavam no estaleiro ou na reserva, aqueles que cederiam o que fosse para transferir-se ao Flamengo. 

Todos os países onde há jogo de apostas no futebol têm vivido escândalos de roubalheira na formação de resultados e na conduta de atletas e juízes. As coleções de casos na Itália e na Inglaterra dispensam outras más referências. No Brasil, a aspiração da sociedade é de que se detenha a corrupção alastrada por todo o país. 

Não é, absolutamente não é, a criação de mais oportunidades de bandalheiras. Ainda mais na extensão nacional do futebol, que já as tem até sufocantes, em vendas de jogadores muitas delas feitas só por corrupção de um lado e do outro.

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