terça-feira, 6 de maio de 2014

Dilma não tem maioria, nem há tempo hábil, para aprovação de proposta de emenda constitucional convocando plebiscito. Além do que é golpe


Atalho é golpe
A reforma política está presente no discurso de todos os partidos. Mas nem sempre é evidente o que cada corrente política pensa de fato sobre esta reforma. Neste sentido, as manifestações de junho do ano passado ajudaram a tornar mais claras algumas intenções, como a de frações do PT.  


Recordemos que, naquele momento, ao sair do estado de catalepsia — em que também ficou a oposição, reconheça-se —, a presidente Dilma, sob inspiração do PT, propôs, entre outros “pactos”, um para a convocação de “assembleia constituinte exclusiva”, via plebiscito, para atender a um dos supostos clamores das ruas, a reforma política. Supostos clamores porque não se viu nas ruas qualquer reivindicação mais forte por esta reforma.

O sentido daquelas manifestações — até começarem a ser desvirtuadas por grupos radicais, ajudados pela violência policial — esteve voltado para críticas ao descaso do poder público com a infraestrutura de que depende a maioria população. Com destaque para transporte público de massa, educação e saúde/SUS. Grupos de petistas com acesso ao Planalto é que aproveitaram o momento e contrabandearam para o discurso oficial a proposta de inspiração chavista da “assembleia constituinte”.


Por sinal, logo demolida, do ponto de vista da lógica e da Lei, por juristas e até ministros do Supremo, os quais alertaram para a inconstitucionalidade da proposta. A ideia é mesmo indefensável do ponto de vista do estado de direito. “Constituinte exclusiva” é uma excrescência jurídica.  


Convoca-se Assembleia Constituinte com poderes de revisão da Carta, sem a necessidade de quorum qualificado, apenas em rupturas institucionais. Ou fazem-se mudanças pontuais na Constituição, obedecida a regra de praxe: votação em dois turnos em cada uma das Casas do Congresso, com aprovação por 3/5 dos votos.


Convocar uma assembleia “exclusiva”, para tratar de temas pré-definidos, é golpe — ficou mais uma vez claro na repercussão daquela proposta petista, mantida pela legenda. Como é muito difícil conseguir a maioria necessária para alterações profundas na legislação político-eleitoral — um reflexo da multiplicidade de opiniões que há na sociedade —, a constituinte “exclusiva” foi o atalho encontrado por petistas para viabilizar a reforma dos sonhos do partido.


Diante da ampla e contundente reação, os petistas encaminharam uma segunda proposta, sem abrir mão da primeira, para um plebiscito sobre mudanças feitas pelo Congresso, como se fosse possível uma consulta binária“sim” ou “não”sobre assuntos intrincados como sistema de votação etc.  


A intenção do PT é conhecida: aprovar o voto em lista fechada, condição para o financiamento público de campanha. Entendem petistas que foram ajudados pelo veto à contribuição de pessoas jurídicas a políticos e partidos, aprovado pelo STF.


São medidas que apenas favorecem as cúpulas partidárias e legendas já consolidadas, PT a principal delas. Não ajudam a melhorar a baixa qualidade da representação política no país, mas auxiliam o projeto de poder petista.

Fonte: O Globo – Editorial

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