quarta-feira, 14 de maio de 2014

Preservação da natureza está 5,2 milhões de hectares menor



Publicação: 14/05/2014 16:03 Correio Braziliense

 
Perplexidade. Esta é a palavra que os cientistas encontraram para resumir a sensação diante da maior investida contra a conservação da natureza nas últimas três décadas. No período, 93 parques nacionais e outras unidades de conservação tiveram suas fronteiras reduzidas ou suas categorias alteradas. Na prática, o que se fez foi retirar ou reduzir a proteção de 5,2 milhões de hectares de florestas nativas antes preservadas em parques, reservas, estações ecológicas. Isso equivale ao território do Rio Grande do Norte.

Em termos de extensão, as maiores perdas (74% do total) ocorreram entre 2008 e 2012, em unidades de conservação na Amazônia. Os principais motivos foram o avanço desregrado da geração e transmissão de energia hidrelétrica, do agronegócio e da urbanização. As constatações são de um estudo que acaba de ser publicado na Conservation Biology, uma das mais respeitadas publicações científicas do mundo.

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“As áreas protegidas oferecem serviços ambientais como conservação da biodiversidade, manutenção do regime hídrico, mitigação das mudanças climáticas e bem estar para a humanidade. Enfraquecer as unidades de conservação compromete severamente a capacidade dessas áreas em oferecer esses recursos. Por isso o Brasil deveria estar aumentando suas áreas protegidas. Mas está fazendo o contrário, e diante dos olhos do mundo inteiro”, advertiu o líder da pesquisa, o biólogo Enrico Bernard.

O estudo identificou que os eventos ocorreram em 16 estados, sendo 69 em áreas de proteção integral (parques e reservas biológicas) e 24 em unidades de uso sustentável, onde vivem populações tradicionais, por exemplo. O que mais chamou a atenção dos pesquisadores foi justamente o período de 2008 a 2012, que registrou 74% de todas as alterações.

Ao cruzar as informações, os biólogos notaram que as alterações nas unidades se intensificaram a partir da publicação da Matriz Energética Brasileira em 2007. O documento oficial diz que para o Brasil atender à demanda de 4,5% de mais oferta energia elétrica anual até 2030, todos os grandes rios da Amazônia devem ser barrados para a construção de hidrelétricas.

De 2010 a 2012, um total de 21 unidades de conservação tiveram suas fronteiras afetadas na Amazônia para acomodar empreendimentos de geração ou de transmissão de energia. A pesquisa estudou alterações apenas nas unidades de conservação. Se as terras indígenas e quilombolas fossem incluídas, a conta seria ainda maior.

E se depender do Congresso Nacional, alerta o estudo, o país poderá perder ainda mais áreas protegidas nos próximos anos. Projetos de lei em tramitação na Câmara e no Senado querem alterar, somente na Amazônia, a Reserva Extrativista Rio Ouro Preto (Rondônia), a Floresta Nacional do Jamanxim, a Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, Estação Ecológica Terra do Meio e Parque Nacional do Pardo (Pará).

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