quarta-feira, 14 de maio de 2014

PT, Partido Terrorista. Ou: Campanha fascistoide!



O PT decidiu fazer a campanha do medo vencendo a esperança, invertendo a fórmula do marqueteiro Duda Mendonça em 2002. Em sua inserção na TV, investe no terrorismo eleitoral. Simula cinco situações que oporiam o Brasil do passado — governado pelo PSDB — ao do presente, sob a gerência do PT. Os atores de cada um dos quadros são os mesmos, ontem e hoje. Uma família feliz, por exemplo, está comprando sorvete na rua e olha para si mesma, no passado, quando vivia na indigência. 


Uma lágrima, nada furtiva, rola dos olhos de uma menina. Uma voz em off, meio cavernosa, alerta: “Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos com tanto esforço. Nosso emprego de hoje não pode voltar a ser o desemprego de ontem. Não podemos dar ouvidos a falsas promessas. O Brasil não quer voltar atrás”.



Independentemente das afinidades eletivas, trata-se de uma mistificação grosseira no que afirma e no que omite. “Ah, o PSDB fez o mesmo em 1994, 1998 e 2002 e venceu a eleição assim duas vezes!” A afirmação é falsa como nota de R$ 13. Deixar claro que o PT era contra o Plano Real não era “terrorismo eleitoral”, mas matéria de fato. 


Pode-se encontrar a propaganda do partido na Internet. Os arquivos da imprensa estão disponíveis. Aloizio Mercadante e Maria da Conceição Tavares haviam convencido Lula de que o malogro seria espetacular e de que os pobres pagariam a conta do ajuste. Eu era editor-adjunto de Política da Folha em 1994. Tentei uma entrevista com Conceição. Sua indignação com o plano era tal, “meu irmão!”, que ela começou a gritar comigo como se eu fosse o Pérsio Arida ou o Edmar Bacha. Chorou um pouco e bateu o telefone na minha cara “porque vocês da imprensa não entendem nada!”. Ao menos a sua indignação era sincera, o que não é costumeiro entre petistas, que só se indignam quando isso lhes parece oportuno.


A ladainha contra o plano e contra os fundamentos que garantiam a estabilidade da economia foi a peça de resistência das campanhas de 1998 e, sim!, também da de 2002. O lema “O medo vencendo a esperança”, com aquelas grávidas a anunciar os bebês de Rosemary, ao som do “Bolero”, de Ravel (que desperta em mim os instintos mais primitivos), não escondia o fato de que não havia plano de voo a não ser “mudar isso tudo que está aí”. Tanto isso é verdade que a especulação passou a comer solta, o PT percebeu que poderia herdar um país ingovernável por conta de sua histórica irresponsabilidade e redigiu, então, a tal “Carta ao Povo Brasileiro”, que foi revisada por gente do governo FHC, o que poucos sabem. E eu sustento que foi assim ainda que os dois ex-presidentes neguem. O tucano sempre silenciou a respeito por elegância; o petista, por oportunismo.


Na história, não existe “se”, mas isso não nos impede de fazer exercícios lógicos. E se o PT tivesse vencido em 1994? E se tivesse vencido em 1998? E se não tivesse mudado o rumo da prosa a partir de 2003, quando aderiu às práticas que jurava que iria exterminar? O partido foi ao Supremo em 2000 contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. A questão ficou no tribunal por quase uma década. Em abril de 2003, no quarto mês da era petista, entrevistei o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, para a revista “Primeira Leitura” (que o petismo ajudou a fechar fazendo terrorismo nas agências de publicidade e no setor privado).


 Quando deputado, ele havia votado contra a LRF. No entanto, ele me disse naquela entrevista: “Para mim, responsabilidade fiscal é uma questão de princípio, anterior à política”. Você entenderam direito: Palocci dizia que a Lei de Responsabilidade Fiscal contra a qual ele próprio votara e contra a qual seu partido recorrera ao Supremo era intocável. O governo Lula passou a lutar, então, para mantê-la. Vale dizer: o PT de situação queria que o STF dissesse um “não” ao que havia reivindicado o PT de oposição.


É evidente que esse país do passado, de que fala o PT, não é o de seus aliados José Sarney ou Fernando Collor. Não! O país melancólico, da fome, do desespero, dos meninos que lavam para-brisas no farol (como a gente sabe, isso não existe mais, certo?), das famílias esfomeadas, ah, esse seria o país dos tucanos, do governo FHC. Quem conhece a história precisa ter um pouco de estômago para aguentar tamanha mistificação.


Mas convenham: não será por excesso de pudor que o petismo entrará para a história, não é mesmo? 

De resto, qualificar um partido adversário de “fantasma do passado”, como se a alternância de poder fosse uma regressão, é essencialmente fascistoide. É precisamente isto o que penso do PT há muitos anos: um partido fascistoide.


Por Reinaldo Azevedo

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