quarta-feira, 14 de maio de 2014

Seminário no Instituto Fernando Henrique identifica perigos para a democracia na América Latina

Ricardo Setti VEJA


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Pela democracia: o espanhol Felipe González, o mexicano Jorge Castañeda, o chileno Ricardo Lagos, o uruguaio Júlio Maria Sanguinetti e FHC (Foto: R. Setti)



Os 10 anos do Instituto Fernando Henrique Cardoso foram comemorados ontem no Teatro Eva Herz, em São Paulo, com um seminário de alto nível reunindo, sob a mediação do ex-presidente, o ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González, os ex-presidentes Ricardo Lagos, do Chile, e Júlio Maria Sanguinetti, do Uruguai, e o escritor e ex-chanceler do México Jorge Castañeda.


Com a autoridade de um líder socialista que venceu quatro eleições consecutivas, governou e transformou a Espanha durante 14 anos (1982-1996) e é velho conhecedor e amigo da América Latina, Felipe González chamou a atenção, entre outros pontos, para o fato de que na região está faltando “a vigilância sobre a legitimidade do exercício da democracia”.

Referindo-se à Venezuela, González criticou quem é eleito de forma democrática “mas governa de forma não democrática”, violando a separação entre os Poderes do Estado, esmagando a oposição, cerceando a imprensa e reprimindo manifestações de protesto.


Deteve-se em lembrar como um exemplo a mais de abuso a “espantosa” disparidade de meios de propaganda nas eleições presidenciais de 2013 em favor do hoje presidente Nicolás Maduro e em prejuízo de Henrique Capriles, candidato da oposição, assim mesmo derrotado por percentagem mínima.


Com isso, remeteu a plateia à intervenção inicial do ex-presidente FHC, que designou como “democracias autoritárias” regimes que, eleitos pelo voto, atropelam depois as instituições democráticas, “como se uma grande votação concedesse um alvará para que o poderoso [eleito] vire um pequeno ditador”.


O ex-presidente chileno Ricardo Lagos (2000-2006), por seu turno, lembrou que a grande diminuição da pobreza ocorrida em diferentes países do continente não diminuiu na mesma proporção a “iníqua” distribuição de renda, e que este é um dos grandes desafios a serem enfrentados pelas democracias.
Já Júlio Maria Sanguinetti, duas vezes presidente do Uruguai (1985-1990 e 1995-2000), ecoou uma preocupação geral ao lembrar que a América Latina, a despeito de haver criado diversas organizações unilaterais, ainda não consegue falar “com uma só voz” justamente num período como o atual, de globalização, em que “as regras do mundo estão sendo traçadas em lugares aos quais temos pouco ou nenhum acesso”.

O ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda (2000-2003), escritor e professor de universidades latino-americanas, norte-americanas e europeias, lamentou a omissão das democracias latino-americanas diante das violações de direitos humanos em países “bolivarianos” e mencionou como ameaça à democracia também a utilização da máquina pública por presidentes de outras nações que buscam a reeleição a qualquer custo.

Os cinco debatedores concordaram que as novas formas de manifestação popular por meio de novas tecnologias representam um elemento novo no cenário político, com o qual as democracias tradicionais e suas instituições ainda não sabem lidar apropriadamente.

Vejam agora o vídeo em que, em poucos segundos, FHC define com precisão as “democracias autoritárias” do tipo bolivariano:




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