Há pesquisas para todos os gostos na praça, e elas movimentam os
bastidores políticos e a especulação financeira, neste caso quando há
notícias de que a popularidade da presidente Dilma está caindo o mercado
agradece. O avesso também acontecerá, necessariamente, se e quando a
presidente se recuperar nas pesquisas.
Essa não é uma boa
perspectiva para quem se coloca como a melhor opção para presidir o
país. Quando Lula começou a aparecer como o franco favorito nas
pesquisas em 2002, os especuladores financeiros reagiram ao perigo
potencial que ele representava, levando o dólar até a R$ 4,00 e elevando
o risco Brasil.
Agora, a cena se repete invertida, mas pelas
mesmas razões: o mercado financeiro oscila para cima com a
possibilidade de derrota de Dilma, o que significa que a direção
econômica do país mudará de rumo. A convenção do PT que reafirmou a
candidatura de Dilma, tentando soterrar a campanha pela volta de Lula,
teve um tom agressivo que denota todo o ressentimento pela crescente
rejeição ao governo petista refletida nas pesquisas eleitorais e nas
vaias que seus principais líderes estão recebendo pelo país.
Dia tres foi a vez de a presidente Dilma ser vaiada mais uma vez,
desta em uma tradicional exposição de gado zebu em Uberaba, em Minas,
terra de Aécio Neves que Dilma também reivindica para si, pois nasceu no
estado. Mas assim como historicamente não está ligada ao PT, e sim ao
PDT, também o estado que tem mais a ver com sua vida política é o Rio
Grande do Sul.
A radicalização da campanha petista, com
críticas à elite e à grande imprensa, mais uma vez acusada por Lula como
a grande opositora do governo, pode levar, no entanto, a resultado
contrário ao desejado pelos apoiadores de Dilma. As pesquisas indicam
que ela está caindo pelas tabelas em direção à votação tradicional do
PT, que gira em torno de 30% do eleitorado.
Lula só saiu
desse índice para tornar-se presidente quando ampliou seu eleitorado
adotando uma imagem pública menos agressiva do que a que tinha nas
campanhas anteriores, de 1989 a 1998, quando perdeu quatro eleições
seguidas, duas para Collor (primeiro e segundo turnos ) e duas para
Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno.
Teve que
escrever a hoje famosa "Carta ao povo brasileiro", em que se comprometeu
com a manutenção da política econômica, e amenizou tanto sua imagem que
a certa altura da campanha me disse, satisfeito: "Desta vez estou
eleito. Quando até a Vera Loyola anuncia que votará em mim é que já
ganhei".
A socialite da Barra da Tijuca que colocava tapete
persa na casa de seu cachorrinho de estimação representava naquela
ocasião a aceitação do Lulinha Paz e Amor, criatura criada pelo
marqueteiro Duda Mendonça que anda sumida nos últimos tempos.
As pesquisas divulgadas nos últimos tempos, mesmo que os critérios
de algumas, como a de ontem do Instituto Sensus ou a do Vox Populi de
dias atrás, possam provocar dúvidas, são uníssonas em uma direção: a
presidente Dilma está perdendo densidade eleitoral com o passar dos
dias, e o candidato do PSDB, senador Aécio Neves, surge como a
alternativa preferida dos que votam com a oposição, grupo que tem sido a
maioria no primeiro turno de todas as eleições realizadas desde 1994.
Há ainda uma outra tendência reafirmada: a distância entre Dilma
e Aécio num provável segundo turno está diminuindo à medida que o
candidato da oposição vai ficando mais conhecido do grande eleitorado.
O outro candidato da oposição, o ex-governador de Pernambuco
Eduardo Campos, continua sem tirar vantagem da adesão de Marina Silva, e
sofre algumas restrições impostas por sua companheira de chapa. Agora
mesmo, ao ouvir Aécio Neves dizer que é companheiro "do mesmo sonho" de
Campos, Marina fez questão de afirmar que há diferenças bastante
profundas entre os dois, sugerindo que a adesão a uma eventual ida de
Aécio para o segundo turno não são favas contadas.
Provavelmente faz isso para marcar uma posição de independência da chapa
Eduardo Campos-Marina Silva, confiante em que o eleitorado está cansado
da polarização entre PT e PSDB e acabará escolhendo a terceira via como
alternativa de mudança. Se Campos se convencer de que deve também
tratar o candidato tucano como adversário, o calor da campanha eleitoral
pode inviabilizar um acordo no segundo turno, o que favorecerá mais uma
vez o PT.
04/05/2014 O GLOBO
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