Há um clima de revolta no agronegócio brasileiro com o lançamento do
Plano Safra 2014-2015, realizado ontem em Brasília. Políticos e
presidentes de federações de agricultura e pecuária fazem fortes
críticas à Dilma. Leia aqui,
por exemplo, o posicionamento da FAEP, do Paraná, grande estado
produtor. O Estadão publica editorial demolidor sobre o tema. Veja
abaixo.
O comício do Plano Safra
Em mais um comício patrocinado pelo governo, a presidente
Dilma Rousseff aproveitou o lançamento do Plano Agrícola e Pecuário 2014/2015
para falar da contribuição do PT à criação de uma agricultura eficiente e
competitiva, como se nada ou quase nada tivesse ocorrido nos 30 anos anteriores
à chegada dos petistas ao poder.
A cômica versão dilmista do "nunca antes
na história deste país" pode ter enganado algum cidadão patologicamente
desinformado. Como outras patranhas petistas, é fácil de desmenti-la com dados
oficiais de produção e produtividade. Se a intenção fosse apenas lançar mais um
plano de apoio à produção, como se faz todo ano, a comparação com o governo
tucano - de resto ingênua e inepta - teria sido dispensável. A referência foi
obviamente mais um lance eleitoral, mas a oradora havia sido mal instruída
sobre temas como produção e produtividade.
A presidente mencionou "dificuldades" no início da
gestão petista para "fazer uma política de crédito adequada". Além
disso, comparou a produção de grãos e oleaginosas no ano anterior à posse do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva - 96,8 milhões de toneladas em 40,2
milhões de hectares - com a estimada para este ano, 191,2 milhões em 56,4
milhões de hectares. "Tamanho crescimento da produtividade somente é
possível com muita pesquisa e muito trabalho qualificado", pontificou.
Trabalho de quem: do governo petista?
Para falar sobre produção e eficiência a presidente deveria
ter mobilizado mais informações. Isso teria servido para ilustrá-la um pouco
mais e talvez poupá-la de algumas bobagens. Síntese dos fatos: a produção cresceu
mais nos anos 90 que na década seguinte e mais neste segundo período que nas
três safras de 2010/11 a 2013/14.
A transformação da agropecuária brasileira numa das mais
eficientes e competitivas foi trabalho de décadas. A Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi fundada nos anos 70. Resultados de seu
esforço começaram a tornar-se visíveis nos anos 80 e apareceram ainda mais
claramente nos 90. Uma das consequências foi a redução do peso dos alimentos no
orçamento familiar, fato logo registrado pelos institutos de pesquisa de
preços.
Na safra 1990/91, o País colheu 57,9 milhões de toneladas em
37,89 milhões de hectares. Em 2000/01, a produção chegou a 100,27 milhões de
toneladas, em 37,85 milhões de hectares. A produção cresceu, portanto, 73,17%,
enquanto a terra cultivada diminuiu ligeiramente.
Entre as safras de 2000/01 e a de 2010/11, o total produzido
aumentou 62,63%, para 162,8 milhões de toneladas, e a área ocupada cresceu
31,75%, para 49,87 milhões de hectares. A produção cresceu rapidamente, mas os
ganhos de produtividade foram obviamente muito mais lentos. A safra 2013/2014
está estimada em 191,2 milhões de toneladas (mais 17,44%). A área usada passou
a 56,4 milhões de hectares (aumento de 13,09%). A produção por hectare expandiu-se
em média pouco menos que 1,2% ao ano nesse período. No decênio anterior, a taxa
média havia sido de 2,1%.
Não cabe discutir agora se a presidente Dilma Rousseff
distorceu os fatos intencionalmente ou, como ocorre com frequência, por mera
ignorância. De toda forma, se ela de fato estivesse interessada em contar a
história tal como se passou, teria de mencionar o esforço do presidente Lula
para aparelhar a Embrapa para permitir a reorientação ideológica de seu
programa de pesquisas. Teria citado o apoio a invasores de terras e a
insegurança criada entre os produtores rurais por erros políticos dos governos
petistas.
Teria lembrado também os longos anos sem investimento em
logística (o PT está no poder desde 2003) e os enormes problemas dos
exportadores, nos últimos anos, para embarcar seus produtos.
Era objetivo da presidente, sabia-se desde antes do
discurso, conquistar o apoio eleitoral dos empresários do agronegócio. Por
segurança, cuidou também dos interesses da indústria automobilística,
anunciando a renovação de crédito especial para equipamentos. Esse tipo de
apoio à modernização agrícola está longe de ser uma inovação petista, embora
alguns jovens desprevenidos até possam acreditar nisso.
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