A mobilidade social me parece muito mais importante do que a distribuição de renda, pois não desestimula o esforço pessoal
Ganho uns poucos milhares de reais com os livros que escrevi, ao passo que o Thomas Piketty deve estar faturando milhões de euros com um único livro. Um detalhe importante é que, embora seu livro deva ter dado muito trabalho, envolveu um risco financeiro relativamente pequeno, já que tudo o que tinha a perder era o seu tempo. Em outras palavras, se seu livro fosse um fracasso, Piketty não quebraria por causa disso. Do ponto de vista financeiro, está sendo muito ganho para pouco risco.
No entanto, ele merece cada centavo que está ganhando e é justo que ganhe mais do que eu, pois seu livro é muito mais importante do que os meus. Um caso típico da meritocracia que ele critica. Já ele, se for coerente com o que prega, deve achar essa diferença de ganhos uma injustiça social a ser combatida.
E já que perguntar não ofende: será que o Tom
Piketty estaria disposto a transferir para minha conta bancária uma
parcela expressiva de seus ganhos?
Em minha opinião, “O capital no século XXI” está fazendo esse sucesso todo por dois motivos. Primeiro, porque o livro é realmente muito bom. Não repete o que outros já disseram, não é mais do mesmo. Muito pelo contrário, diz o que ninguém havia dito, e, assim, expande as fronteiras do conhecimento. Como diriam os americanos, é uma obra “fora da caixa”. Só isso já justificaria seu sucesso. Mas, tem mais. O livro deu às esquerdas o referencial teórico de que tanto precisam para criticar os regimes liberais, cujo sucesso tanto as incomoda. E com razão. Afinal, qual o país socialista com mais de 50 milhões de habitantes que possui uma distribuição de renda melhor do que a Inglaterra, a França, o Japão ou a Coreia? Citar a Suécia como um exemplo de socialismo bem-sucedido não é válido, pois é um país com apenas dez milhões de habitantes, que nunca teve escravidão e possui uma imigração mínima. Na Suécia, os imigrantes vindos da África subsaariana não chegam a 50 mil, ou seja, caberiam em um estádio de futebol. Não dá para comparar com os Estados Unidos, que possuem cerca de 300 milhões de habitantes, tiveram escravidão durante séculos e é o país que recebe mais imigrantes no mundo.
Ao comparar rendimento de capital com rendimento de trabalho, o livro traz um sofisma, já que compara duas coisas de naturezas distintas. O rendimento do trabalho assalariado é uma renda contratada. Já o lucro é uma renda residual. A empresa pode ir bem ou mal e seus empregados receberão seus salários e, em caso de falência, serão considerados credores preferenciais. Já os acionistas só recebem o que sobrar depois que todos os credores (o governo incluído) forem pagos. Além disso, para cada empresa que tem sucesso, são aproximadamente cinco que fracassam. Ora, se os riscos são diferentes, é justo que os retornos também o sejam.
Outro aspecto interessante a ser observado é que o livro dá muita ênfase à distribuição de renda e pouca à mobilidade social. Ora, a mobilidade me parece muito mais importante do que a distribuição, pois não desestimula o esforço pessoal. Os estudos sobre mobilidade social devem abranger não apenas os casos de sucesso na ascensão social, mas, também, o decesso dos que eram ricos e agora não são mais. O Brasil é rico de exemplos neste sentido. Na primeira metade do século passado, antes de o país se industrializar, muitas pessoas, por terem boas relações, ganharam fortunas representando empresas estrangeiras. Com a industrialização, elas vieram para cá, e quem não tinha capacidade técnica ou empresarial perdeu sua fonte de lucros. Hoje, vemos muitos descendentes desta antiga aristocracia em dificuldades financeiras.
Finalmente, um último alerta. A teoria do imposto global e progressivo sobre a renda nunca foi testada na prática. Ao achatar o topo da pirâmide, pode estar desestimulando aqueles que têm disposição para assumir riscos e, dessa forma, comprometer a produção de riqueza sem a contrapartida da equidade social.
Em minha opinião, “O capital no século XXI” está fazendo esse sucesso todo por dois motivos. Primeiro, porque o livro é realmente muito bom. Não repete o que outros já disseram, não é mais do mesmo. Muito pelo contrário, diz o que ninguém havia dito, e, assim, expande as fronteiras do conhecimento. Como diriam os americanos, é uma obra “fora da caixa”. Só isso já justificaria seu sucesso. Mas, tem mais. O livro deu às esquerdas o referencial teórico de que tanto precisam para criticar os regimes liberais, cujo sucesso tanto as incomoda. E com razão. Afinal, qual o país socialista com mais de 50 milhões de habitantes que possui uma distribuição de renda melhor do que a Inglaterra, a França, o Japão ou a Coreia? Citar a Suécia como um exemplo de socialismo bem-sucedido não é válido, pois é um país com apenas dez milhões de habitantes, que nunca teve escravidão e possui uma imigração mínima. Na Suécia, os imigrantes vindos da África subsaariana não chegam a 50 mil, ou seja, caberiam em um estádio de futebol. Não dá para comparar com os Estados Unidos, que possuem cerca de 300 milhões de habitantes, tiveram escravidão durante séculos e é o país que recebe mais imigrantes no mundo.
Ao comparar rendimento de capital com rendimento de trabalho, o livro traz um sofisma, já que compara duas coisas de naturezas distintas. O rendimento do trabalho assalariado é uma renda contratada. Já o lucro é uma renda residual. A empresa pode ir bem ou mal e seus empregados receberão seus salários e, em caso de falência, serão considerados credores preferenciais. Já os acionistas só recebem o que sobrar depois que todos os credores (o governo incluído) forem pagos. Além disso, para cada empresa que tem sucesso, são aproximadamente cinco que fracassam. Ora, se os riscos são diferentes, é justo que os retornos também o sejam.
Outro aspecto interessante a ser observado é que o livro dá muita ênfase à distribuição de renda e pouca à mobilidade social. Ora, a mobilidade me parece muito mais importante do que a distribuição, pois não desestimula o esforço pessoal. Os estudos sobre mobilidade social devem abranger não apenas os casos de sucesso na ascensão social, mas, também, o decesso dos que eram ricos e agora não são mais. O Brasil é rico de exemplos neste sentido. Na primeira metade do século passado, antes de o país se industrializar, muitas pessoas, por terem boas relações, ganharam fortunas representando empresas estrangeiras. Com a industrialização, elas vieram para cá, e quem não tinha capacidade técnica ou empresarial perdeu sua fonte de lucros. Hoje, vemos muitos descendentes desta antiga aristocracia em dificuldades financeiras.
Finalmente, um último alerta. A teoria do imposto global e progressivo sobre a renda nunca foi testada na prática. Ao achatar o topo da pirâmide, pode estar desestimulando aqueles que têm disposição para assumir riscos e, dessa forma, comprometer a produção de riqueza sem a contrapartida da equidade social.
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