Publicação: 28/05/2014 06:09 Correio Braziliense
"É um erro (a Copa). Os hospitais estão um caos, sem médico, com pessoas morrendo na fila. Para que Copa?, diz Ana Maria Machado, servidora pública |
Desde que o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo há sete anos, a população questiona qual será o legado para o país com a realização do megaevento. Agora, a 15 dias do início do Mundial, especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que impactos positivos e negativos serão percebidos, de imediato, pelo povo, como obras de mobilidade urbana ou de crescimento no entorno dos estádios. E outros resultados só poderão ser conhecidos ao longo do torneio, como se o evento, por exemplo, conseguirá atrair turistas estrangeiros.
Professor da Universidade East London, Lamartine Pereira da Costa avalia que a palavra legado acabou banalizada com a realização da Copa no Brasil. Para ele, o ideal seria discutir quais serão os impactos tanto positivos quanto negativos, de acordo com as características de cada local. Contudo, Costa argumenta que qualquer nação que receba eventos desse porte contará com transformações apreciadas ou rechaçadas pela sociedade. Sociólogo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Ignacio Cano também defende que esse legado não seja visto como um saldo único da Copa.
Os dois especialistas avaliam que a mobilidade urbana não será um legado positivo a ser deixado pelo Mundial. “A população percebe que esse é um problema que está cada vez pior. Durante a Copa, algumas estruturas podem paliar a situação, mas, de fato, nada vai melhorar”, comentou Cano. Segundo Lamartine, a Copa, na África do Sul, em 2010, também sofreu pressão pública para melhorias no transporte público com a realização do megaevento. “Naquela época, eles maquiaram alguma coisa. Mas até hoje nada foi resolvido por lá”.
Arenas
Em relação aos estádios, os impactos serão diversos de acordo com a localidade onde foram construídos. Para Lamartine, haverá um legado positivo, por exemplo, na Arena Pernambuco, no Recife. “É provavelmente o dinheiro mais bem gasto entre as obras. Ele (estádio) foi planejado para desenvolver uma área distante da cidade”, conta. Ele faz uma ressalva, contudo, sobre as obras de reformas do Mané Garrincha, em Brasília. “Ela já pode ser considerado uma das arenas mais caras do mundo. Questiono se valerá a pena o seu custo para manutenção. Já que foram mais de R$ 1,9 bilhão só para construção”. Cano acrescentou que o alto custo das arenas de Manaus e Cuiabá também não resulturá em resultados econômicos positivos, já que não são capitais com tradição no futebol.
Com a proximidade da Copa, a compensação do megaevento no país é o assunto na maioria das rodas de conversa. O Correio perguntou ontem para moradores de Brasília o que achavam do Mundial. “É um erro (a Copa). Os hospitais estão um caos, sem médico, com pessoas morrendo na fila, sem UTI, sem quarto para criança, há professores de greve, nunca vi tanta greve num país como esse. Para que Copa? Da minha parte, eu espero que (a Seleção Brasileira) perca no primeiro dia. É muito dinheiro, muito desperdício”, disse a servidora pública Ana Maria Machado, 46 anos.
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