Cristiane Capuchinho*
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
28/05/201408h21
Mais de 3,8 milhões de brasileiros entre 4 e 17 anos
estão fora
da escola. Esse jovem é, em sua maioria, homem negro com renda domiciliar
de até ½ salário mínimo per capita e mora na zona rural. Seus pais não têm
instrução ou não completaram o ensino fundamental.
As informações foram obtidas nos microdados do Censo
Demográfico de 2010 e compiladas no estudo "O enfrentamento da Exclusão
Escolar no Brasil", da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e
da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, apresentado nessa segunda-feira
(27) no 6° Fórum Nacional Extraordinário da Undime (União dos Dirigentes
Municipais de Educação).
"Os mais excluídos da escola são aqueles
historicamente excluídos de toda a sociedade. Não será só a educação quem vai
dar conta dessa questão, precisa-se de políticas articuladas de diferentes
esferas para dar conta desse problema", afirma a representante da Unicef
no Brasil Júlia Ribeiro.
Fora da escola: perfil
- 51,7% é homem
- 50,7% é homem
entre os jovens fora da escola com idades entre 15 e 17
anos
- 55,4% é negro
entre as crianças fora da escola com idades entre 4 e 5
anos
- 61,2% é negro
entre os jovens fora da escola com idades entre 15 e 17
anos
- 65,5% tem renda per capita domiciliar inferior a meio salário mínimo
entre as crianças fora da escola com idades entre 4 e 5
anos
- 52,9% tem renda per capita domiciliar inferior a meio salário mínimo
entre os jovens fora da escola com idades entre 15 e 17
anos
- 77,8% tem pais sem instrução ou com fundamental incompleto
entre as crianças fora da escola com idades entre 4 e 5
anos
64,3% tem pais sem instrução ou com fundamental
incompleto
entre os jovens fora da escola com idades entre 15 e 17
anos
Fonte: Unicef e Campanha Nacional pelo Direito à Educação
Júlia afirma que as soluções são diversas conforme as
barreiras identificadas em cada caso, que podem ser o transporte escolar, a
falta de vagas, a repetência, entre outras. Ela destaca ainda a necessidade de
políticas específicas voltadas a crianças de área rural, deficientes, indígenas
e quilombolas.
Ensino infantil e médio são principais desafios
A faixa etária entre 4 e 5 anos é a com mais baixa
frequência à escola (80,1%). Nessa fase, o desafio ainda é de universalização
do ensino. Os municípios têm até 2016 para colocar toda criança nessa idade
dentro do sistema escolar.
Alvo de políticas específicas há mais tempo, as faixas
entre 6 e 10 anos e entre 11 e 14 anos têm os maiores índices de frequência
escolar, 97,2% e 96,1%
respectivamente.
Entre os adolescentes de 15 a 17 anos, há 1,7 milhão de
jovens fora da escola. A faixa, que deveria equivaler ao ensino médio, tem
frequência escolar de 83,3%.
Crianças fora da escola
- 1.154.572
- das crianças têm entre 4 e 5 anos
- 439.578
têm de 6 a 10 anos
- 526.727
têm de 11 a 14 anos
- 1.725.232
têm de 15 a 17 anos
Fonte: IBGE
O Censo mostra que, nessa idade, há uma pressão do
mercado de trabalho sobre os estudantes que pode tirá-los da escola. Em 2010,
30,2% dos jovens dessa faixa etária tinham uma ocupação.
Os dados sobre os jovens dessa idade fora da sala de aula
mostram também que há uma predominância do abandono escolar entre os mais
pobres: 21,1% dos adolescentes de famílias com renda per capita abaixo de ¼ de
salário mínimo estavam fora da escola em 2010.
"Se você vai trabalhar com adolescentes, vai
perceber que há uma questão que são os jovens que trabalham. E de que forma a
escola acolhe esse adolescente que trabalha? De que forma o currículo dela
considera a realidade deste aluno? Muitas vezes a escola planeja um trabalho
que não é para esse aluno real", critica.
Plataforma de consulta
Também foi lançado no evento o portal do Fora da Escola
Não Pode (www.foradaescolanaopode.org.br),
ferramenta em que poderão ser acessadas informações sobre quantas crianças, em
que faixa etária, de qual cor e sexo estão fora da escola em cada município.
"É essencial
que os sistemas municipais e estaduais saibam quem são as crianças fora da
escola para encontrar maneiras de atraí-las para a rede, estratégias de
inserção. Em geral, são crianças mais vulneráveis socialmente, com deficiência,
ou dificuldade de acesso à escola", considera Cleuza Repulho, presidente
da Undime.
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