“Se o João é um cara pobre, está
feliz; o João do meio da distribuição também está, talvez nem tanto
quanto o primo pobre dele. Agora, o primo rico tem todas as
razões para não estar gostando muito da situação. Além de a renda dele
não estar crescendo muito, ele está tendo problemas, como ter que
dividir aeroporto com quem nunca fez check-in, enfrentar engarrafamento
com mais carros nas ruas. Os dados mostram que existe uma transformação profunda, não percebida por quem está em cima.”
Quem disse tal barbaridade acima foi o economista Marcelo Neri, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, em entrevista
recente ao GLOBO. O governo Dilma tem endossado este mito, de que os
“ricos” estariam incomodados porque houve um grande crescimento no
acesso aos mesmos serviços por parte dos mais pobres, aqueles que formam
a “nova classe média”. Mas faz algum sentido isso?
Claro que não. Como tudo aquilo que vem
do PT, isso não passa de um engodo, de mais uma mentira que procura
segregar a população brasileira entre “pobres” e “ricos”, colocando uns
contra os outros. Quem foi que disse que a “nova classe média” não se
importa com a qualidade dos serviços? Quer dizer então que aqueles
milhares nas ruas em junho de 2013 eram todos “ricos”? Conta outra!
Tem sido vergonhosa a postura de Marcelo
Neri, ao emprestar seu nome a esse projeto nefasto de poder do PT. O
economista deveria lembrar que a ascensão dos mais pobres não precisaria
e nem deveria se configurar em um estorvo para os mais ricos ou mesmo
para a classe média. Todos os países desenvolvidos do “primeiro mundo”
são bem mais ricos do que o Brasil, e nem por isso o acesso dos mais
pobres aos mesmos serviços representa um incômodo às elites.
Marcelo Neri já deve ter visitado muitos
aeroportos nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. Deve ter visto
milhares de pessoas circulando por eles, de todas as classes. Nem por
isso há a mesma lentidão, precariedade e burocracia dos nossos
aeroportos administrados pela estatal Infraero. Dividir os aeroportos
com quem tem menos dinheiro não é problema algum; encarar aeroportos sem
ar condicionado, banheiro decente e conforto, isso sim, é um problema,
tanto para ricos como para pobres.
O mesmo vale para o trânsito. É verdade
que houve um crescimento acelerado da frota de automóveis, em boa parte
pelos subsídios e estímulos irresponsáveis do próprio governo. Seria
natural algum aumento no engarrafamento. Mas não na proporção que vimos.
Isso já é culpa da falta de planejamento e investimento do governo.
Em países mais ricos, quase todos possuem
carros, mas nem por isso vemos o mesmo trânsito que temos no Brasil. As
estradas são muito melhores, o transporte público é decente, e
inclusive os mais ricos dividem com os mais pobres o mesmo metrô sem
problema algum, pois se trata de um metrô limpo e que funciona direito.
Como fica claro, o problema não está em
ricos e pobres dividirem o mesmo ambiente, utilizarem o mesmo serviço; o
problema está na qualidade do serviço em si, que costuma ser precária
quando se trata de Brasil. Quem foi às ruas protestar pertencia a todas
as classes. Ricos e pobres estão cansados da incompetência e corrupção
deste governo.
Essa narrativa fantástica produzida por Marcelo Neri não cola, não se sustenta, não encontra respaldo nos fatos. Todos nós
queremos um retorno melhor para a quantidade absurda e imoral de
impostos que pagamos. E quase todos estamos insatisfeitos, como mostram
as pesquisas de opinião, com cerca de 70% demandando mudanças. Será que o
Brasil, por acaso, tem 70% de ricos?
Rodrigo Constantino
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