quarta-feira, 28 de maio de 2014

Quem foi que disse que a “nova classe m édia” não se importa com a qualidade dos serviços?



A “nova classe média” está feliz com esse tratamento?

“Se o João é um cara pobre, está feliz; o João do meio da distribuição também está, talvez nem tanto quanto o primo pobre dele. Agora, o primo rico tem todas as razões para não estar gostando muito da situação. Além de a renda dele não estar crescendo muito, ele está tendo problemas, como ter que dividir aeroporto com quem nunca fez check-in, enfrentar engarrafamento com mais carros nas ruas. Os dados mostram que existe uma transformação profunda, não percebida por quem está em cima.”

Quem disse tal barbaridade acima foi o economista Marcelo Neri, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, em entrevista recente ao GLOBO. O governo Dilma tem endossado este mito, de que os “ricos” estariam incomodados porque houve um grande crescimento no acesso aos mesmos serviços por parte dos mais pobres, aqueles que formam a “nova classe média”. Mas faz algum sentido isso?

Claro que não. Como tudo aquilo que vem do PT, isso não passa de um engodo, de mais uma mentira que procura segregar a população brasileira entre “pobres” e “ricos”, colocando uns contra os outros. Quem foi que disse que a “nova classe média” não se importa com a qualidade dos serviços? Quer dizer então que aqueles milhares nas ruas em junho de 2013 eram todos “ricos”? Conta outra!

Tem sido vergonhosa a postura de Marcelo Neri, ao emprestar seu nome a esse projeto nefasto de poder do PT. O economista deveria lembrar que a ascensão dos mais pobres não precisaria e nem deveria se configurar em um estorvo para os mais ricos ou mesmo para a classe média. Todos os países desenvolvidos do “primeiro mundo” são bem mais ricos do que o Brasil, e nem por isso o acesso dos mais pobres aos mesmos serviços representa um incômodo às elites.

Marcelo Neri já deve ter visitado muitos aeroportos nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. Deve ter visto milhares de pessoas circulando por eles, de todas as classes. Nem por isso há a mesma lentidão, precariedade e burocracia dos nossos aeroportos administrados pela estatal Infraero. Dividir os aeroportos com quem tem menos dinheiro não é problema algum; encarar aeroportos sem ar condicionado, banheiro decente e conforto, isso sim, é um problema, tanto para ricos como para pobres.

O mesmo vale para o trânsito. É verdade que houve um crescimento acelerado da frota de automóveis, em boa parte pelos subsídios e estímulos irresponsáveis do próprio governo. Seria natural algum aumento no engarrafamento. Mas não na proporção que vimos. Isso já é culpa da falta de planejamento e investimento do governo.

Em países mais ricos, quase todos possuem carros, mas nem por isso vemos o mesmo trânsito que temos no Brasil. As estradas são muito melhores, o transporte público é decente, e inclusive os mais ricos dividem com os mais pobres o mesmo metrô sem problema algum, pois se trata de um metrô limpo e que funciona direito.

Como fica claro, o problema não está em ricos e pobres dividirem o mesmo ambiente, utilizarem o mesmo serviço; o problema está na qualidade do serviço em si, que costuma ser precária quando se trata de Brasil. Quem foi às ruas protestar pertencia a todas as classes. Ricos e pobres estão cansados da incompetência e corrupção deste governo.

Essa narrativa fantástica produzida por Marcelo Neri não cola, não se sustenta, não encontra respaldo nos fatos. Todos nós queremos um retorno melhor para a quantidade absurda e imoral de impostos que pagamos. E quase todos estamos insatisfeitos, como mostram as pesquisas de opinião, com cerca de 70% demandando mudanças. Será que o Brasil, por acaso, tem 70% de ricos?

Rodrigo Constantino

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