segunda-feira, 5 de maio de 2014

Invasões.Um pouco de bom senso

8 de abril de 2014

Cidade
A estúpida "lógica" por trás das invasões
 
Redacao Midia@Mais - midiaamais.com.br


Há um consentimento criminoso por parte de autoridades e imprensa quanto às repetitivas invasões de propriedade, fenômeno habitual no meio rural que agora se espalha como uma praga por nossas grandes cidades.

Se houvesse honestidade intelectual no debate que se estabelece em torno do tema, jornalistas engajados e operadores do direito admitiriam que se trata de prática sem qualquer justificativa aceitável.

Há basicamente dois argumentos possíveis para "justificar" as invasões de propriedade.

O primeiro argumento é aquele de natureza jurídica: pessoas invadem determinado imóvel porque este deixou de cumprir sua "função social" prevista em lei e a autoridade responsável pela desapropriação falha em garantir que sua destinação seja cumprida.

O segundo argumento é de natureza vagamente moral ou humanitária, segundo o qual não seria justo que, diante de tantos imóveis desocupados ou abandonados, famílias inteiras continuem sem ter onde morar.

Nenhum deles se sustenta 30 segundos diante de uma análise isenta de fixações ideológicas.

Em relação ao primeiro argumento, a falta eventual do cumprimento de determinada imposição prevista em lei não confere a nenhuma pessoa ou grupo de pessoas o poder de julgar, condenar e punir quem quer que seja segundo sua própria conveniência ou oportunidade. 

A vida em sociedade prevê que, para fazer cumprir a lei, a própria sociedade estabelece limites e prerrogativas, e são os agentes do sistema judiciário os responsáveis por fazer funcionar seus mecanismos, sob pena de que prevaleça a "justiça pelas próprias mãos" – o que vem a ser exatamente o que pretendem os militantes de extrema esquerda especializados em invasões de propriedade. 

Assim sendo, se não é admissível que um credor de precatório invada uma repartição pública e recolha seus computadores até o limite da dívida estatal sempre que o Estado demorar em honrar seu pagamento, ou que uma vítima de roubo saia caçando o assaltante e, depois de apanhá-lo, encarcere-o em sua própria casa, também não é que alguém supostamente lesado pela falha do poder público em garantir a "função social" de alguma propriedade saia por aí arrombando fechaduras.


Em relação ao segundo argumento, basta perceber que a primeira medida determinada por grupos de invasores de propriedade sempre que tomam o poder de um imóvel que não lhes pertence (seja uma fazenda, um prédio ou um terreno) é restringir a entrada de estranhos ou eventuais novos invasores que, por acaso, não pertençam ao grupo inicial (ou ao "movimento social" líder da invasão). Ou seja: se valesse de fato o argumento humanitário, não seria razoável aceitar que os primeiros invasores têm algum tipo de prevalência em relação aos invasores seguintes, pois quem pode determinar que a necessidade humana dos primeiros de ter um lugar para morar é maior que a dos últimos? 

A verdade é que o direito à propriedade (que é usurpado e questionado a respeito de sua legitimidade no momento em que ocorre a invasão) volta a valer magicamente assim que uma nova "titularidade" é estabelecida (após a invasão, passam a ser os líderes da invasão os novos "donos" do imóvel, decidindo então quem pode entrar ou não, como autênticos "proprietários"). 

A "boa intenção" dos invasores só seria comprovada de alguma maneira se os mesmos permitissem, após a invasão, que qualquer pessoa com alguma necessidade entrasse quando quisesse na propriedade invadida, sem limites ou seleções segundo "critérios" de natureza política, sindical, ideológica, de relações pessoais, etc.

O mais preocupante em relação ao fenômeno das invasões é que a História mostra que, depois de roubar do cidadão seu direito de dizer o que pensa (a ideologia politicamente correta já o faz habitualmente no Brasil) e de tomar seu direito à propriedade, resta apenas impedir que cada um vá e venha segundo sua conveniência e, finalmente, que tenha direito à vida – este é o reconhecido processo pelo qual uma democracia transforma-se numa tirania, e parece que nossa sociedade encontra-se em movimento, sabe-se lá em qual direção.
 

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