segunda-feira, 5 de maio de 2014

Nós contra eles: o maniqueísmo petista como blindagem às críticas






Em sua coluna de hoje na Folha, Aécio Neves expõe de maneira clara a principal tática adotada pelo PT para inviabilizar qualquer debate sério na política nacional: utilizar a retórica maniqueísta de “nós contra eles”. 

Tentando preservar o monopólio da virtude, o PT se coloca como vítima de “inimigos do povo” ou da nação, e foge, dessa forma, da necessidade de rebater as várias acusações que recaem sobre o governo. Diz Aécio:


Pressionado pela queda nas pesquisas, o petismo recorre ao terrorismo em escala, tentando demonizar as oposições para confundir e dividir o país –reeditando o conhecido “nós e eles”.

O “nós” são os “patriotas” do governo e os que se servem de fatias da administração federal como contrapartida ao alinhamento e ao silêncio obsequioso. Ou, pior, os que se prestam à posição vergonhosa de atacar quem cobra transparência e exige a apuração sobre a corrupção endêmica que atinge o país.

O “eles” são as oposições e os brasileiros que, nesta versão maniqueísta, ao combater e criticar os malfeitos do governismo, trabalham contra o Brasil. Simples assim.

Esta é a estratégia que restou, desde que o PT perdeu discursos e abandonou as suas bandeiras históricas.

Essa estratégia não é nova. Os marxistas dividiram o mundo em duas classes, trabalhadores e capitalistas, em que estes exploravam aqueles. O mundo simplista e dicotômico tinha uma explicação evidente para todos os males: culpa dos capitalistas insensíveis e exploradores, que faziam de todos os trabalhadores as vítimas de sua ganância desmedida.

Mas, como explica Aécio Neves, quem tem reclamado do governo são os pobres, a classe média, aqueles que precisam utilizar os péssimos serviços públicos, ou que não podem blindar seus carros contra a insegurança que cresce por negligência do governo federal. Ou ainda aqueles que dependem de hospitais públicos e morrem em filas de espera. Seriam esses os “inimigos do Brasil”? Conclui Aécio:

A verdade é que, por mais que o governo tente fugir da realidade, ela se impõe todos os dias. Denúncias sobre as falcatruas na Petrobras não param de surgir e a imprensa já lança luz naquele que parece ser o grande temor do governo: os negócios realizados nos fundos de pensão das estatais, que têm tudo para desafiar a paciência do mais crédulo dos brasileiros.

Quem deseja mais transparência e quem clama por investigações mais profundas frente a tantos escândalos de corrupção não é inimigo do país; ao contrário: quer justamente salvar o Brasil de um destino trágico, como o venezuelano ou argentino.

Ironicamente, após apelar tanto para tal discurso maniqueísta, o feitiço se voltou contra o feiticeiro. Hoje até podemos resumir a disputa por um Brasil melhor de maneira reducionista e simplista, sem errar muito no diagnóstico. Aqueles que lutam por um país mais próspero e justo estão unidos em torno de um objetivo comum de curto prazo: tirar o PT do poder!

Rodrigo Constantino

Nenhum comentário: