quinta-feira, 15 de maio de 2014

O PT desmoraliza a CPI com método. Ou: Só bola levantada na rede!


Os petistas se organizaram para desmoralizar as CPIs. Mas não se trata de uma desmoralização qualquer: eles pretendem fazê-lo com método. Afinal, todos por ali seguem a máxima de seu moralista-mor, Luiz Inácio Lula da Silva, que já repetiu o lendário político pernambucano Agamenon Magalhães, que morreu em 1952, segundo quem “em política, feio é perder”. O chefão petista poderia repetir ainda outra máxima de seu compatriota: “Ao diabo o poder que não pode”. Ora, se, em política, feio é perder, então tudo e qualquer coisa são permitidos para… ganhar, certo? A política se torna o terreno privilegiado do amoralismo.


A CPI da Petrobras do Senado foi instalada e já fez as suas primeiras convocações. À primeira vista, seria uma coisa pra valer. Aprovou-se a convocação de 35 nomes. Entre eles, estão Graça Foster, José Sérgio Gabrielli e Nestor Cerveró, o tal então diretor que fez o resumo executivo e omitiu as cláusulas Marlim e Put Option na operação de compra dos primeiros 50% da refinaria de Pasadena.


Ocorre que é tudo de mentirinha. 


Os governistas já escreveram o roteiro. Eles decidiram que vão fazer inveja a Marcelinho, o levantador do vôlei, nos seus momentos mais gloriosos: tome bola na rede, rendondíssima, para a turma cortar. Das 13 cadeiras, apenas 3 cabem à oposição. Como o PSDB e o DEM se negaram a fazer a indicação porque querem a CPI Mista, Renan escolheu os três oposicionistas. Lúcia Vânia (PSDB-GO) e Wilder Morais (DEM-GO) recusaram o lugar. Cyro Miranda (PSDB-GO) decidiu participar, o que me parece um erro flagrante. Ele propôs, por exemplo, a convocação de Lula, que foi, claro!, rejeitada.


Essa maioria esmagadora serviu ainda para ampliar o escopo da CPI, abrindo uma investigação sobre o repasse de recursos federais para a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A acusação de fundo é que gente do governo Campos desviou recursos da obra. A coisa não para por aí: senadores teleguiados pelo Planalto se preparam para “investigar” o naufrágio da plataforma P-36, da Petrobras, ocorrido em 2001, durante o governo FHC. Entre os convocados, ninguém menos do que o então diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), David Zylbersztajn, ex-genro de FHC.


Notem bem: a coisa aconteceu há 13 anos. O PT está no poder há quase 12. E só agora decidiu levar a questão para a CPI. Para investigar? Não! Só para tentar encurralar a oposição. Afinal, se o roteiro com Gabrielli e Graça Foster será suave, tudo conforme o combinado, a agressividade será reservada a Zylbersztajn e a eventuais pessoas ligadas a Eduardo Campos. De resto, pergunte-se: o que uma agência reguladora tem a ver com o afundamento de uma plataforma. A resposta óbvia é “Nada!”.


A CPI do Senado é um mal disfarçado pelotão de fuzilamento mirando suas armas para a oposição. Não sei o que o senador Cyro Miranda faz lá. Sua presença, em certa medida, só coonesta a farsa.
Texto publicado originalmente às 22h07 desta quarta
Por Reinaldo Azevedo

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