A presidente Dilma Rousseff usou números inflados sobre a
redução da miséria no Brasil em seu pronunciamento de rádio e TV sobre a Copa
do Mundo. Dados do próprio governo põem em xeque a afirmação de que,
"em uma década", foram retirados "36 milhões de brasileiros da
miséria", apresentada na mensagem presidencial da terça-feira (10).
Estudo publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada, vinculado ao Palácio do Planalto) aponta que, de 2002 a 2012, o
número de miseráveis (ou extremamente pobres) caiu de 14,9 milhões para 6,5
milhões. Trata-se, portanto, de uma queda de 8,4 milhões no número de
pessoas que vivem na miséria ao longo dos primeiros dez anos da administração
petista, abaixo da cifra mencionada por Dilma.
Publicado em outubro, o documento informa que o cálculo
seguiu o parâmetro adotado na maior parte das estatísticas oficiais: a linha de
renda mensal até R$ 70, definida em 2011. Para os demais anos, o valor foi
corrigido pela inflação.
Outras metodologias citadas no texto do Ipea também chegam a
números muito inferiores aos do pronunciamento da presidente. Até com uma renda mensal de R$ 140, definidora da pobreza
mais ampla, o contingente cai de 41 milhões para 15,7 milhões de brasileiros na
década, uma diferença de 25,3 milhões.
OUTRA CONTA
O número apresentado por Dilma repete o apurado em outra
conta, divulgada no ano passado pelo Ministério do Desenvolvimento Social, que
não mediu a evolução da miséria ao longo do período citado no pronunciamento da
presidente ao país.
"Em 2011, havia 36 milhões de pessoas, beneficiárias do
Bolsa Família, que estariam na miséria caso sobrevivessem apenas com sua renda
familiar", segundo afirma um balanço do programa Brasil Sem Miséria.
A cifra, portanto, saiu de uma subtração hipotética dos
benefícios do programa Bolsa Família da renda de sua clientela em um determinado
momento --e não da comparação entre a quantidade de miseráveis antes e depois
do programa.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, ainda
restavam, naquele ano, 22 milhões de beneficiários abaixo da linha de miséria.
Com o Brasil Sem Miséria e o Brasil Carinhoso, que, na prática, são ampliações
da ação do Bolsa Família, esse grupo deixou a extrema pobreza, diz o governo
federal.
Procurados pela Folha, o Palácio do Planalto e o Ministério
do Desenvolvimento Social defenderam o critério. A pasta afirma que os dados foram retirados do cadastro
único utilizado nas políticas de assistência, no qual estão registrados os
brasileiros de baixa renda. A defesa não contesta as conclusões do Ipea, baseadas na
pesquisa por amostra de domicílios realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
De acordo com a mensagem enviada pelo governo, as pesquisas
do IBGE captam a pobreza "em um ponto determinado do tempo", enquanto
o cadastro único mensura "o contingente daqueles que estão ou estarão na
pobreza em um determinado intervalo de tempo". "O cadastro é a única fonte que, além de mensurar,
permite ao poder público agir para a redução da pobreza, nas várias dimensões
em que ela se manifesta", diz o texto do ministério. (Folha de São Paulo)
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