Como é possível que tipos tão grotescos tenham conseguido
ascender até os altos escalões do poder público ou ocupar posições de
referência intelectual e moral para a sociedade? Um Luiz Inácio, alçado à
Presidência da República; um Dirceu, que se tornou símbolo da juventude
idealista e revolucionária; um Betto e um Boff, tomados - inclusive por
sacerdotes e autoridades eclesiásticas - como modelos de santidade.
Não. Não é possível reduzir o problema a um fator eleitoral
ou solucioná-lo apontando um intenso e febril trabalho de militância política -
nem denunciar o esforço de rebaixar e adequar a fé a um projeto de poder
totalitário. Não. Nenhuma destas tentativas esclarece completamente a questão.
O que poderia ser justificado apenas como resultado da confusão dos tempos, o
psiquiatra polonês Andrew Lobaczewski - sob a perspectiva da bio-psicologia -
aponta como efeito da ação e da influência dos psicopatas.
Em “Ponerologia: Psicopatas no poder” (1), Lobaczewski apresenta
as linhas gerais para a fundação de uma nova disciplina: a ponerologia. “Poneros”,
em grego, quer dizer “o mal” - sendo a ponerologia um estudo sobre a gênese do
mal (p. 81). Porém, não se trata de um estudo amarrado às categorias morais. A
ponerologia, esclarece o psiquiatra polonês, deve estar assentada nos avanços
objetivos da biologia, da medicina e da psicologia clínica.
O foco da ponerologia é a pesquisa da psicopatologia.
Descrever os fenômenos patológicos característicos de determinadas pessoas que,
apesar de formarem um grupo reduzido dentro do conjunto total da população,
podem afetar de forma negativa a vida de centenas, milhares, milhões de seres
humanos. São pessoas que apresentam desvios psicológicos herdados ou
adquiridos, anomalias na percepção, no pensamento ou no caráter - causados por
alguma lesão no tecido cerebral ou por uma perturbação comportamental.
Lobaczewski então apresenta os traços essenciais da
caractereopatia - da esquizoidia - e, sobretudo, da psicopatia essencial. Faz a
descrição dos tipos patológicos e demonstra o “processo ponerogênico”, a forma
como estes tipos avançam o seu domínio sobre as outras pessoas - por exemplo,
confeccionando “ideologias” como “máscara de sanidade”. Neste grau de
influência, o fenômeno atinge a escala macrossocial.
Um período de histeria
generalizada, de crise espiritual da sociedade: o esgotamento dos valores
morais, religiosos e ideativos que alimentavam as pessoas até então; o aumento
do egoísmo, que quebra a ligação entre a obrigação moral e sua referência
social; o domínio de assuntos sem importância nas mentes humanas; a atrofia da
hierarquia de valores; e um governo paralisado (p. 152).
Eis o que produz uma PATOCRACIA. Um sistema de governo
forjado por uma minoria psicopata que assume o controle da vida de pessoas
normais. Ocupam não só cargos políticos, mas posições de referência moral e
intelectual – incluindo-se aí as salas de aula e cátedras universitárias, como
os “pedagogos da sociedade”: pessoas fascinadas por suas idéias grandiosas,
frequentemente limitadas e com alguma mácula derivada de processos de
pensamento patológico, que se esforçam para impor suas teses e métodos,
empobrecendo a cultura e deformando o caráter das pessoas (p. 55).
Lobaczewski viveu na Polônia subjugada pelo comunismo. O seu
trabalho - que contou com a colaboração de outros pesquisadores do leste
europeu - é o resultado desta experiência. Da observação direta, das
transformações geradas pelo totalitarismo soviético na vida e na mente dos seus
compatriotas, e da análise dos ícones e líderes daquele projeto de poder
totalitário.
É assim que Karl Marx aparece como um exemplo de psicopatia
esquizóide; Lênin, uma amostra de caracteropatia paranóica e Stálin de
caracteriopatia frontal. Nestes termos, o trabalho de Lobaczewski é
fundamental, porque fornece uma chave para a compreensão da realidade
brasileira e da América Latina - dominada pelos herdeiros e cultuadores dos
psicopatas e das anomalias descritas pelo psiquiatra polonês.
A influência
deles sobre o conjunto da sociedade está à mostra: degradação cultural e
intelectual; corrupção dos valores morais; desorientação e histeria
generalizada; consumo desenfreado de drogas; taxa de homicídios exorbitante;
caos social e o império da criminalidade. Isto é o suficiente para reconhecer a
importância do trabalho de Lobaczewski.
Não para se produzir uma atmosfera
tenebrosa e fomentar o desespero. É um passo inicial no esforço para amenizar
este estado de coisas, pois a compreensão - semelhante ao processo da psicoterapia
- é o princípio da cura da personalidade humana. E para recuperar um senso
comum saudável - na esperança de destituir uma patocracia - a busca da verdade
é o melhor remédio.
Referência:
[1]. LOBACZEWSKI, Andrew. “Ponerologia”: Psicopatas no
poder. Trad. Adelice Godoy. Prefácio. Olavo de Carvalho. Vide Editorial:
Campinas-SP, 2014.
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