Josias de Souza
O senhor está feliz com a aliança que firmou com o petista Alexandre Padilha?, perguntou o repórter ao deputado Paulo Maluf. E ele: “O PT me trata com mais respeito do que outros partidos. O PT gosta de mim.”
Por vias transversas, o blog recebera a informação de que Maluf estava insatisfeito com o petismo. Dizia-se que cogitava inclusive desfazer em São Paulo o noivado do seu PP com o PT. Romperia a aliança firmada há 13 dias antes da formalização das núpcias, em convenção partidária a realizar-se no final do mês.
Seu relacionamento com o candidato do PT é bom?, insistiu o repórter, pelo telefone. “É ótimo”, respondeu Maluf, sem titubeios. Ele quantificou sua afinidade com Padilha: “101%”.
Para dissolver qualquer réstia de dúvida, Maluf esclareceu que “o relacionamento é perfeito também com o Emídio de Souza, que é o presidente estadual do PT, e com o Rui Falcão, que preside o partido nacionalmente.”
O repórter já se dera por convencido. Mas a satisfação de Maluf com o PT, por ilimitada, intimou-o a adicionar à sua lista mais dois personagens: “Estou muito satisfeito com a atuação do Lula e com a atuação da Dilma em relação ao PP.” De novo, ele forneceu uma referência matemática: “Queixa zero!”
“O Ministério das Cidades é do PP há mais de dez anos”, Maluf explicou. “E, quando apoiamos o prefeito Fernando Haddad, na eleição de 2012, houve inclusive a indicação do secretário de Saneamento Ambiental” do ministério.
O indicado do PP para a Secrataria de Saneamento Ambiental continua no cargo? “Claro que continua”, disse Maluf, antes de esclarecer: “Não é do PP. Não faço indicações políticas. O engenheiro Orlando Garcia é uma indicação técnica. Se a gente põe político, faz besteira”.
“Técnico também erra”, corrigiu-se Maluf. “O Celso Pitta [prefeito de São Paulo de 1998 a 2000], que eu indiquei para me suceder, não deu certo. Mas o importante é que eu fiz a indicação de boa fé.”
Não receia perder a disputa pelo governo de São Paulo com Padilha, hoje o preferido de apenas um 3% do eleitorado? “Quando entrei na campanha do Fernando Haddad, ele também tinha 3% no Datafolha. O José Serra tinha 31%. Esteve na minha casa duas vezes, acompanhado do senador Aloyzio Nunes.”
Por que não fechou com Serra? “Conversamos muito, acho ele um administrador estupendo. Eu disse pra ele: fui prefeito, tenho obrigação de escolher bem. Você está com 70 para 71 anos, foi prefeito há pouco tempo, ficou um ano e três meses e foi embora. Não quis ser prefeito, entregou pro Gilberto Kassab. Perguntei: Serra, você quer ser prefeito ou quer usar a prefeitura como trampolim?”
O que disse o Serra? “Ele disse que era a última coisa da vida dele, queria ser prefeito por oito anos”. Não acreditou? “Ora, meu querido, não acredito em Papai Noel. Fui apoiar o Fernando Haddad, o candidato dos 3%.”
Maluf disse não ter dúvidas de que a eleição em São Paulo será definida em dois turnos. “Aposto o que você quiser. Tem segundo turno. Vai ser o Geraldo Alckmin contra o Alexandre Padilha ou contra o Paulo Skaf.”
Como empresário, por que não entregou o tempo de propaganda do PP no rádio e na tevê para o PMDB de Skaf, presidente da Fiesp? “Eu considero o Paulo Skaf muito competente. Dos candidatos que estão aí, é o mais experiente.”
Se é assim, insisto, por que não apoiou o Skaf? “Vejo o Skaf a cada 15 dias, sou industrial. Conversei muito com ele sobre isso. Até havia, de minha parte, uma predisposição. Mas temos deputados federais e estaduais que têm outro ponto de vista. O PP nacional também. E eu não faço política sozinho.”
“A maioria optou pelo Padilha”, declarou Maluf. “Além disso, decidimos apoiar a Dilma nacionalmente. E o apoio ao Padilha veio por gravidade.” Otimista a mais não poder, Maluf vaticinou: “A Dilma vai vencer no primeiro turno”.
Acha mesmo que uma gestora com taxa de aprovação de 33% no Datafolha vai prevalecer no primeiro round? “Anota aí: ela ganha no primeiro turno. Vou fazer força por ela, em São Paulo.”
Maluf fez as contas: “O tempo de televisão da Dilma, 13 minutos, é três vezes maior que o do Aécio Neves. É seis vezes mais que o do Eduardo Campos —um bom candidato que terá dificuldade de se comunicar. A Dilma terá 26 comerciais de 30 segundos por dia, em dez redes de televisão. Durante 45 dias, todo mundo vai vê-la falando alguma coisa. E ela tem o que falar.”
Confirmando-se a vitória de Dilma, afirmou Maluf, “ela e o Lula se concentrarão na campanha de São Paulo, para apoiar o Padilha ou o Skaf.” Novamente, Maluf arrastou seus búzios na direção oposta à das pesquisas: “O Alckmin vai perder. Não tenho a menor dúvida disso.”
Ex-adversário do PT por três décadas, Maluf é, hoje, um insuspeitado entusiasta do trabalho de Dilma Rousseff. “Para esse momento, ela é a melhor presidenta que o Brasil poderia ter.” Por quê? “Ela tem personalidade, sabe mandar e conhece a fundo os problemas.”
Como apreciador de obras, não acha que dilma demorou para transpor os obstáculos ideológicos que travavam as concessões à iniciativa privada? “Vou repetir uma coisa que eu sempre digo. O Lula está à minha direita. Perto dele, sou um comunista.” O raciocínio vale para a Dilma? “Claro que sim, mais ainda.”
O escritor e dramaturgo francês Jean-Paul Sartre costumava repetir que o marxismo é inultrapassável. Vivo, Sartre ficaria escandalizado com Maluf. “Comparada a mim, a Dima é a extrema direita”, ele disse. Como assim?, indagou o repórter.
“Ora, meu querido, você acha que eu ia entregar dinheiro do BNDES para a BMW construir uma fábrica de automóveis em Santa Catarina? Eu nunca faria isso! Eles que trouxessem os Euros. Pois bem. Hoje, estão dando o nosso dinheiro para uma indústria automobilística que, além da marca, vai ficar com o prédio e todos os dividendos. Isso, sim, que é ser extrema direita. Eu sou comunista.”
No dia em que posou para fotos ao lado de Padilha, selando a parceria em São Paulo, Maluf foi flagrado pela câmera do UOL num cochicho ao pé do ouvido do novo aliado. Parecia preocupado com o marketing da campanha. “Eu preciso de dar uma ideia, inclusive de discurso”, ele soprou para o candidato, com hálito de segredo (repare no vídeo abaixo).
O Padilha o procurou para ouvir os seus conselhos? “Claro que sim. Falamos quase todo dia.” O que tinha a dizer de tão importante? “Tem um velho ditado dos jesuítas que diz o seguinte: água benta e conselho é de graça. Eu fui aluno dos jesuítas. Durante oito anos, fui coroinha. Sou um bom conselheiro. Às vezes erro, mas não deixou de dizer o que penso.”
Mas, afinal, que conselhos deu, gratuitamente, ao Padilha? “Eu disse pra ele o seguinte: você não tem que pegar oito temas. Basta pegar três: saúde, que é o teu forte, violência urbana e água. Bate nesses três temas, que você resolve o seu problema eleitoral.” Padilha acatou? “Vamos saber quando começar a campanha, depois da Copa.”
Maluf enxerga na secura que começa a infelicitar as torneiras de São Paulo uma espécie de Waterloo do governador tucano Geraldo Alckmin. “Não tenho nada contra o Alckmin. É um bom sujeito. Mas ele, mal informado pela Sabesp, mente quando diz que falta água em São Paulo porque não chove. Isso é uma heresia.”
Além de São Pedro, qual seria a causa? Como engenheiro, eu me irrito com tanta mentira. Sei que, hoje, 30% da água tratada de São Paulo se perde na rede de abastecimento, antes de chegar às casas. Imagine uma indústria qualquer que perdesse 30% de sua produção antes de chegar ao consumidor final. Quebrava em um mês. A Sabesp não quebra porque nós subvencionamos”.
Salivando, Maluf recitou o discurso que espera ver ecoado por Padilha: “Fui eu que fiz a estação de Cantareira quando era governador, na década de 80. A grande São Paulo tinha 12,5 milhões de habitantes. Hoje, tem 21 milhões. A população cresceu cerca de 80%. E os investimentos cresceram 20%. Agora, deixam 30% da água se perder pelo caminho e dizem que o problema é de falta de chuva. Isso é irritante.”
Maluf converte sua ira em conselhos para Padilha num instante moralmente delicado. Sob os petistas Fernando Haddad e José Eduardo Cardozo, a prefeitura de São Paulo e o Ministério da Justiça tentam repatriar verbas que, segundo o Ministério Público, Maluf malversou e desviou para o exterior. Maluf costuma dizer que não tem nem conta no exterior. Mas nada disso atrapalha o seu bom relacionamento com o ex-PT.
“Dos partidos com os quais eu já me coliguei, quem me trata melhor é justamente o pessoal do PT”, repisa Maluf. “Antes, poderia haver alguma divergência ideológica. Hoje, não tem mais.”
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